Artes/cultura
07/06/2018 às 05:42•4 min de leitura
O elefante-africano é o maior animal terrestre hoje em dia, e seus cerca de 3 metros de altura e 12 toneladas de peso são suficientes para intimidar qualquer um que o encontre. Agora, pense como é se deparar com um tipo de paquiderme que pode chegar aos 5 metros de altura, pesar 20 toneladas e contar com presas enormes de marfim e uma cobertura de pelos grossos. Era esse tipo de criatura que convivia com os homens há mais de 4 mil anos. Porém, mesmo com toda essa força e imponência, os mamutes foram extintos, e nós estamos aqui. O que aconteceu?
A primeira vez que um fóssil de mamute foi identificado como sendo de uma espécie diferente dos elefantes que eram conhecidos no planeta foi no século XVIII; o responsável foi o francês George Cuvier, também referido como o “pai da paleontologia”. Naquela época, Charles Darwin não havia nem nascido, muito menos existia o conceito de evolução e seleção natural de plantas e animais.
Assim, a descoberta do ser colocou em debate o dogma de que Deus havia feito um mundo completo, com criaturas perfeitas e em sincronia com o ambiente. Estava provado que uma dessas obras não tinha conseguido sobreviver ao tempo e estava extinta para sempre do Universo. Ou até que algum deles seja clonado...
O mamute é um dos animais que sobreviveram mais tempo na Terra, com fósseis que datam de um período que vai de cerca de 4 mil a 5 milhões de anos atrás, mas o fator determinante para sua extinção ainda não foi totalmente descoberto. De acordo com estudos, uma queda mais acentuada na população da espécie começou ao término da última Era do Gelo, há aproximadamente 12 mil anos.
Se você parar para pensar, com o tanto de pelos que o bicho tinha, parece simples responder que a elevação de temperatura natural do planeta foi responsável por seu desaparecimento, mas o real motivo pode ter sido nós. Com milhões de anos de história e adaptações, os mamutes sobreviveram a diversos períodos quentes e gelados do planeta, mas foi justamente quando o homem passou a aprimorar suas técnicas de caça que eles deixaram de existir.
Apesar de normalmente ligarmos os mamutes à neve, não é verdade que eles sobreviviam apenas em ambientes extremamente frios. Seus fósseis já foram encontrados na América do Norte, na Europa, na Ásia e até na África, que mesmo em períodos glaciais do planeta não costumava ficar completamente coberta de gelo.
Extinções dificilmente acontecem de uma hora para outra, mas sim ao longo de muitos anos, com fatores que causam diminuição na população de uma espécie. Com os mamutes não foi diferente, e alguns acreditam que pequenos grupos do animal viveram “aos trancos e barrancos” até cerca de 2 mil anos atrás — quando as grandes pirâmides do Egito já haviam sido construídas, por exemplo.
Durante esse longo caminho rumo ao desaparecimento, os remanescentes sofreram diversas mutações genéticas que dominaram negativamente a linhagem. A constatação foi feita a partir de comparações entre fósseis mais recentes e outros mais antigos. Segundo cientistas, a saúde dos últimos desses seres ia de mal a pior, sendo provável até que tivessem perdido a coloração e o isolamento térmico de suas grossas camadas de pelos.
Sempre que ouvimos sobre mamutes, pensamos em seres com proporções monstruosas, mas a verdade é que várias subespécies do elefante peludão não colocariam os nossos paquidermes atuais para correr, não. Fósseis encontrados na ilha de Creta, por exemplo, mostram que alguns adultos chegavam a apenas um metro de altura, praticamente o mesmo que um filhote da espécie contemporânea.
Falando em tamanho, as presas dos mamutes podiam chegar a 3 metros de comprimento e pesar mais de 90 quilos, mas mais impressionante que isso era a sua estrutura. Assim como podemos estipular a idade das árvores contando o número de anéis do seu tronco, também podemos precisar quantos anos cada animal viveu por meio das marcas naturais de crescimento do marfim. Essa característica pode ser observada tanto em machos quanto em fêmeas e, nelas, ainda fornece informações como o número de gestações ao longo da vida.
Estima-se que há mais de 10 milhões de carcaças desses seres sob o gelo do Ártico. Com o aumento médio da temperatura da Terra, a tendência é que cada vez mais descobertas sejam feitas, conforme o ritmo de derretimento da calota polar, e por pessoas com mais interesses comerciais do que científicos. Uma única presa preservada, que serve de matéria-prima para o marfim, pode valer mais de 35 mil dólares! Na Sibéria, “caçador de mamute” é uma profissão que já existe faz tempo.
Não é difícil uma carcaça de mamute surgir do nada no meio da imensidão branca do Ártico. São tantos casos de animais encontrados extremamente preservados por causa da ação do gelo que existem até histórias (ou lendas) de exploradores que provaram um pouquinho da carne pré-histórica.
Mesmo preservados no gelo, os animais extintos raramente têm seus DNAs completos para análise e reprodução em laboratório. Porém, técnicas genéticas avançadas já permitem que o código seja sintetizado artificialmente, criando uma alternativa na busca pelo retorno dos mamutes à vida.
Segundo estudos liderados pelo cientista George Church, da Universidade de Harvard (EUA), a semelhança genética entre elefantes atuais e seus primos distantes é de cerca de 99,5%, o que facilita uma clonagem de maneira híbrida no futuro, dando origem a novíssimos “elemutes” ou “mamulefantes”.
Em 2013, uma equipe de pesquisadores russos descobriu uma carcaça tão preservada que chegou a soltar sangue durante as escavações. Apesar de ter animado entusiastas da clonagem em um primeiro momento, o líquido segue sendo analisado até hoje pelo laboratório Sooam Biotech, na Coreia do Sul, que ainda não encontrou uma única célula com material genético intacto.