Artes/cultura
04/10/2018 às 11:00•3 min de leitura
A edição de julho de 2018 da revista American Journal of Transplantation trouxe um caso inédito e um tanto quanto preocupante. Um doador de órgãos transmitiu células cancerígenas para quatro receptores diferentes. O que deveria ser a salvação para estes pacientes, tomou um caminho diferente. Os casos mais conhecidos em transplantes são os de transmissão de doenças infecciosas e, mesmo assim, são relativamente raros.
Em 2007, uma mulher europeia de 53 anos sofreu um derrame e acabou falecendo em consequência dele, segundo os pesquisadores responsáveis pelo artigo. Os exames necessários para a doação dos órgãos foram conduzidos dentro dos padrões e seguindo os protocolos, e o procedimento teve continuidade. Cinco pessoas diferentes receberam os rins, pulmões, fígado e coração da doadora.
O paciente que recebeu o coração faleceu pouco depois da cirurgia por fatores não relacionados. Os outros transplantes foram todos considerados como bem sucedidos — e os receptores puderam seguir em frente, pelo menos por um tempo.
O problema teve início 16 meses após as cirurgias, quando a paciente que recebeu os pulmões apresentou um quadro cancerígeno em seu tecido epitelial. Ela foi diagnosticada com câncer e veio a falecer um ano após a doença ser reconhecida. Nas análises realizadas para identificar a causa do câncer, que chegou a se espalhar por vários órgãos, foi constatado que as células cancerígenas eram originárias da doadora dos pulmões.
Após identificar a origem do problema, os médicos entraram em contato com os demais pacientes com o propósito de garantir que todos estavam bem. Então, após a realização de uma bateria de testes, o time descobriu que a receptora do rim esquerdo que, na época da cirurgia tinha 62 anos, não apresentava vestígios de câncer.
Os médicos indicaram que uma opção para garantir que não haveria problemas futuros seria a remoção do órgão transplantado — o que acabou não sendo possível. Cinco anos depois da cirurgia, a paciente foi diagnosticada com um quadro cancerígeno que se espalhou pelo rim, ossos, fígado e outros tecidos. Ela faleceu em 2013, seis anos após passar pelo transplante.
A receptora do fígado também passou pelos testes sem apresentar sinais de câncer depois da morte da primeira paciente. No entanto, o cenário mudou em 2011, quando também foram encontradas células cancerígenas. Ela iniciou o tratamento de radioterapia com um resultado inicial positivo, uma vez que ela havia recusado um novo transplante por receio de sofrer complicações. Um ano mais tarde, a doença voltou e a paciente acabou falecendo em 2014.
O último paciente, que recebeu o rim direito da doadora, foi diagnosticado com câncer em 2011, mas, neste caso, os médicos conseguiram de remover o órgão. O paciente ainda passou por quimioterapia para evitar que as células cancerígenas se espalhassem a outros tecidos e, atualmente, está livre da doença.
Aparentemente, a doadora sofria de câncer de mama, uma vez que os exames nos pacientes indicaram que as células cancerígenas que se espalharam em seus órgãos eram originárias desse tecido da mulher. O que chama a atenção nos casos é que os cânceres surgiram em épocas diferentes e em mais órgãos do que apenas os transplantados.
Obviamente, os transplante são cirurgias que envolvem muitos riscos, e antes que elas sejam, realizadas, há um processo rigoroso na busca de doenças pré-existentes. Entretanto, existem detalhes que podem passar despercebidos devido a complexidade que determinadas enfermidades apresentam.
Segundo a pesquisa publicada, a estimativa é que casos como os dos pacientes que mencionamos acima ocorram entre 1 e 5 vezes a cada 10 mil transplantes, e um facilitador possível para o câncer ter se espalhado é o fato de que, depois de passar pelos procedimentos cirúrgicos, é necessário tomar medicamentos que baixam a imunidade, deixando o organismo mais suscetíveis a doenças.
É importante frisar que, segundo os pesquisadores que apresentaram o estudo, o sistema de triagem atual é eficiente, uma vez que casos similares são incrivelmente raros. Além disso, investir em diagnósticos mais sofisticados poderia levar muito tempo, o que reduziria ainda mais as chances de quem precisa de transplantes para sobreviver.
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