Estilo de vida
13/09/2019 às 03:00•2 min de leitura
Ao contrário do que se acreditava há mais de 250 anos, a Bacia Amazônica não serve de lar para apenas uma espécie de peixe-elétrico. Essa foi a conclusão à qual uma equipe de cientistas chegou depois de conduzir exames de DNA em mais de 100 desses animais e os resultados apontarem que, na verdade, existem (pelo menos) 3 espécies diferentes deles na Amazônia – sendo que uma é capaz de produzir descargas elétricas de 860 volts, a mais poderosa já registrada no Reino Animal.
Desde meados do século 18, os cientistas pensavam que o único peixe-elétrico que habitava na Amazônia era o da espécie Electrophorus electricus – descrita pela primeira vez por Carolus Linnaeus, médico, botânico e zoólogo sueco considerado como o “pai da taxonomia moderna”. Contudo, após desconfiar que podiam existir mais espécies desses animais, os pesquisadores decidiram coletar exemplares e submetê-los a análises para investigar.
Os cientistas capturaram peixes-elétricos aqui no Brasil, assim como no Suriname, Guiana e Guiana Francesa, somando 107 indivíduos no total. Então, os pesquisadores examinaram os corpos e estruturas ósseas dos exemplares, mapearam os locais onde cada um deles foi capturado e analisaram os testes genéticos conduzidos – e esse meticuloso processo revelou a existência de outras 2 espécies até então desconhecidas: a Electrophorus varii e a Electrophorus voltai, sendo esta segunda a que produz a descarga de 860 volts que mencionamos antes.
As análises também apontaram que os peixes da espécie E. electricus habitam mais ao norte da Bacia Amazônica, principalmente na Guiana e no Suriname, enquanto que os animais das espécies E. varii e E. voltai preferem ficar mais ao sul da bacia, na região norte do Brasil, e podem ser encontrados nos rios Xingu e Tapajós. Além disso, apesar de os indivíduos das 3 espécies parecerem idênticos, os cientistas conseguiram identificar ligeiras diferenças no formato do crânio e na estrutura corporal das criaturas.
Com relação às descargas elétricas, os cientistas colocaram os peixes-elétricos em piscinas infláveis para poder medi-las e, depois de levar uns tantos choques no processo, descobriram que os E. voltai são capazes de produzir a maior descarga já registrada entre animais, superando a maior marca até então, que era de 650 volts.
Só para se ter ideia, se você enfiar os dedinhos em uma tomada, vai levar um choque entre 110 e 220 volts, mais ou menos, e os tasers podem gerar cerca de 1,2 mil volts. Isso significa que, apesar de poder produzir uma descarga e tanto, um peixe-elétrico sozinho não seria capaz de matar um humano (adulto e saudável). Contudo, se um cardume nervoso atacasse alguém – e essas criaturas costumam viver em grupos –, aí a situação poderia se complicar.
Mas não se preocupe, pois não existem registros de que incidentes assim já tenham ocorrido, e o normal é que os peixes usem seus “poderes” para capturar presas, afugentar predadores e para ajudá-los a navegar pelos rios e se comunicar. E mais: foram os peixes-elétricos que inspiraram Alessandro Volta a criar a primeira bateria elétrica, no finalzinho do século 18, e, mais recentemente, suas propriedades vêm servindo de ideia para o desenvolvimento de novas tecnologias, entre elas, baterias de hidrogel para uso em implantes médicos e a criação de medicamentos para o tratamento de doenças neurodegenerativas. Além disso, a identificação das novas espécies demonstra que ainda existem muitos organismos na Amazônia esperando para serem descobertos. Só tomara que dê tempo...
Peixe descoberto na Amazônia produz descarga de 860 volts via TecMundo