Os 'Amantes de Modena', enterrados de mãos dadas, eram homens

17/09/2019 às 14:002 min de leitura

Esqueletos abraçados sempre geram comoção por sugerirem a vontade de duas pessoas de permanecerem juntas pela eternidade. Não foi diferente quando uma equipe de arqueólogos descobriu, em uma sepultura de 1.700 anos, um casal de mãos dadas. Chamados de Amantes de Modena (a cidade italiana onde foram achados), a história sofreu um plot twist com a descoberta de que o par é composto de dois homens — uma prática de enterro nunca antes observada.

O casal foi descoberto em 2009 mas, por conta da deterioração dos ossos, não foi possível fazer a correta identificação do gênero dos esqueletos. Os pesquisadores, então, se basearam nas práticas funerárias típicas entre os séculos IV e VI e concluíram serem um homem e uma mulher.

Com o desenvolvimento da tecnologia, em 2018 uma equipe da Universidade de Bolonha usou a espectrometria de massa para determinar o sexo biológico dos esqueletos através de proteínas no esmalte dos dentes. Todo ser humano tem a proteína amelogenina-X; a amelogenina-Y, somente homens. Os pesquisadores, então, compararam as análises feitas nos esqueletos com as de 14 indivíduos conhecidos e, assim, descobriram que os dois eram homens.

Por causa da deterioração dos ossos, o gênero dos dois esqueletos só foi determinado agora. (Fonte: ArcheoModena/Divulgação)

"Não há registro de nenhuma outra sepultura desse tipo. No passado, foram achados casais de mãos dadas um homem e uma mulher. Qual seria o elo entre os indivíduos achados em Modena permanece um mistério”, disse um dos autores do estudo, Federico Lugli.

Sociedade não aprovava o homossexualismo

Segundo ele, existe a possibilidade de haver, até mesmo entre os esqueletos encontrados em posição semelhante (abraçados ou de mãos dadas), mais pares de homens. “Certamente não era uma prática comum no fim da era antiga. Acreditamos que simbolize um relacionamento particular entre os indivíduos, mas não sabemos qual ele seria”, explicou.

No cemitério havia, além dos dois esqueletos (segunda sepultura à direita, no alto), mais 11 corpos, sendo quatro com sérios traumatismos. (Fonte: ArcheoModena/Divulgação)

Para o pesquisador, a noção de que os dois são um casal romântico parece equivocada – a sociedade cristã da época não teria aprovado um amor homossexual. Lugli acredita que “o jeito como os dois foram enterrados representa uma expressão de compromisso entre dois indivíduos. Eles podem ter sido irmãos ou primos intimamente relacionados, ou talvez até mesmo soldados que morreram juntos na guerra”. 

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