Artes/cultura
18/09/2019 às 10:00•3 min de leitura
Saturno pode ser um dos mais observados planetas do Sistema Solar, mas você sabia que ainda existem questões relacionadas com o gigante gasoso que não são completamente compreendidas? De acordo com Larry O’Hanlon, do AGU Blogosphere, anomalias causadas pelo campo magnético dificultam o trabalho dos astrônomos de tentar determinar quanto tempo, exatamente, Saturno leva para completar uma volta ao redor do próprio eixo e, com isso, definir qual é a duração de um dia por lá, por exemplo.
Essa informação, assim como conhecer a composição, dimensões e período orbital, é vital para que os cientistas possam compreender como um planeta se formou e a maneira como ele se comporta. No caso de gigantes gasosos, que não possuem superfície sólida a partir da qual detectar um ponto de referência que possa ser observado enquanto o astro completa uma volta sobre seu eixo, a medição é realizada através da captura de sinais gerados pelo campo magnético do planeta durante o movimento de rotação.
Entretanto, com relação a Saturno, anomalias eletromagnéticas impediam que o cálculo fosse realizado – e, durante décadas, cientistas tentaram encontrar formas de estimar o período rotacional do planeta e entender o que, afinal, rolava por lá. Segundo Larry, o gigante gasoso apenas emite padrões em frequências baixas que são bloqueadas pela atmosfera terrestre, então, os astrônomos tiveram que esperar até que sondas espaciais viajassem até o “Senhor dos Anéis” do Sistema Solar, no início dos anos 80, para conseguir obter dados sobre a sua movimentação.
Primeiro, os equipamentos – as sondas Voyager 1 e 2 – detectaram sinais que indicavam que Saturno levava 10 horas e 40 minutos para completar uma volta sobre si mesmo. Só que quando chegou a vez de a Cassini estudar o planeta (mais de 20 anos depois dos equipamentos anteriores e em uma missão que durou mais de 13 anos), as medições realizadas pelo dispositivo apontaram uma diferença de 6 minutos no período rotacional, uma variação que simplesmente não deveria ter ocorrido em 2 décadas, já que coisas assim normalmente levam centenas de milhões de anos para acontecer.
E não foi só isso: os levantamentos realizados pela Cassini também sugeriram que existiam diferenças entre os períodos rotacionais dos hemisférios norte e sul de Saturno – ou seja, os dados apontaram que as duas metades do planeta teriam dias com durações diferentes, o que, como você há de concordar, é impossível. Mas um time de astrônomos parece ter desvendado o mistério sobre a dinâmica maluca que se dá em Saturno. Como? Comparando o planeta com outro gigante gasoso que habita o Sistema Solar, Júpiter.
Segundo Larry, os cientistas criaram um modelo e ele apontou que a variação em tempo orbital pode ser resultado de anomalias geradas no campo magnético de Saturno, provocadas pela perda de velocidade do plasma conforme ele escapa em direção ao espaço. Imagine uma pessoa rodopiando com os braços abertos – os membros giram mais lentamente do que quando eles se encontram coladinhos ao corpo, certo? Algo parecido aconteceria com o plasma saturniano.
Além disso, diferente de Júpiter, que conta com uma inclinação de apenas 3 graus sobre seu eixo, Saturno possui uma de 27 graus e, sendo assim, tal como ocorre com a Terra – cuja inclinação é de 23 graus –, o planeta tem estações do ano. Isso significa que os 2 hemisférios recebem uma quantidade diferente de radiação solar ao longo do ano, o que, por sua vez, tem efeito sobre o plasma que se encontra nas camadas mais externas da atmosfera saturniana.
Com isso, de acordo com o modelo criado pelos cientistas, com a diferente quantidade de radiação que os dois hemisférios recebem no verão e no inverno, o plasma é impactado e o resultado é uma maior resistência nas camadas mais elevadas, fazendo com que a atmosfera se mova mais devagar – criando a diferença no período orbital detectado pela Cassini. Fascinante, você não concorda?