Artes/cultura
03/10/2019 às 13:00•3 min de leitura
Você deve ter ouvido falar em Greta Thunberg com a repercussão mundial do discurso feito pela jovem ativista na Conferência da ONU no dia 23 de setembro, mas...
Greta Thunberg é uma garota sueca de 16 anos que mora em Estocolmo. Ela conta que aos 8 anos, quando aprendeu na escola sobre o aquecimento global e a potencial crise climática, ficou extremamente abalada e revoltada com a falta de ação no mundo para tentar evitar este futuro.
A menina passou por um período depressivo na infância, agravado pelas preocupações em relação ao futuro de sua geração a partir das previsões científicas, durante o qual foi diagnosticada com Asperger aos 11 anos.
Esta síndrome, que caracteriza um tipo de autismo, é conhecida por estar associada à pessoas consideradas extremamente inteligentes. Apesar de não ter sido diagnosticado em vida, estudos do comportamento de Albert Einstein, por exemplo, apontam que o físico também tinha Asperger. Muitos outros nomes importantes da ciência e da tecnologia foram diagnosticados como autistas ou suspeita-se que tinham autismo.
A jovem comenta: “se eu não fosse tão estranha, eu teria me distraído com o jogo social que as pessoas jogam" e "eu sou o tipo de pessoa que não gosta quando alguém fala uma coisa e faz outra. Esse é o caso com as mudanças climáticas", referindo-se à Síndrome de Asperger como um “superpoder” que a permite maximizar lógica e foco.
Ano passado, aos 15 anos, após convencer seus pais da importância de agir contra as mudanças climáticas, Greta Thunberg decidiu realizar o protesto que iniciou o movimento Fridays For Future. Como planejado, ela faltou às aulas toda sexta-feira durante três semanas para sentar-se na porta do parlamento sueco com um cartaz afirmando sua luta pelo clima.
Após três semanas, a jovem não se satisfez com o impacto de seu ato e decidiu que o protesto não poderia parar. Ela está há 58 semanas realizando o protesto toda sexta-feira. O movimento cresceu e ganhou adeptos no mundo todo, levando à primeira greve global pelo clima em 15 de março deste ano.
Por conta de seu grande impacto em prol do meio ambiente, Greta Thunberg é reconhecida internacionalmente como uma das mais importantes jovens ativistas da atualidade. Ela foi convidada para discursar em eventos internacionais e está indicada para o Nobel da Paz.
Sua fala na Cúpula do Clima na Conferência da ONU se destacou pois Greta desafiou direta e objetivamente os governantes a encararem a realidade, em intensa retórica de revolta, coragem e dor, ressaltando a injustiça que sua geração sofrerá no futuro com o problema que está sendo ignorado hoje.
O tom da fala ao dirigir-se à líderes, além da sinceridade, surpreendeu à todos. Vale lembrar que autistas podem ter dificuldade na gerência da raiva em ambientes muito estimulantes...
Greta pede ação efetiva contra a mudança climática ocorrendo em nosso planeta — comprovada pela ciência — em prol das crianças. Ao atacar o capitalismo fóssil, criticando os líderes por contarem “contos-de-fada onde existe eterno crescimento econômico” e não agirem perante à iminência de uma extinção humana em massa, Greta aborreceu diversas figuras da extrema-direita mundial.
Donald Trump, que diz “não acreditar em aquecimento global”, zombou da ativista em sua conta no Twitter. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, postou uma montagem onde ela come durante uma viagem de trem e crianças em cenário de marginalização são vistas na janela, junto da afirmação de que Greta Thunberg é “financiada pela Open Society de George Soros”, sendo que ambas, foto e informação, já tinham sido sinalizadas como fake news.
O filho do presidente brasileiro não parou com as piadas ridicularizando a jovem e seu discurso mesmo após forte repercussão negativa. Além dos políticos, diversas figuras públicas ficaram indignadas com a opinião da menina e destacou-se o caso do radialista Gustavo Negreiro, que foi demitido da rádio 96 FM de Natal (RN) após expressar ao vivo que o problema da ativista de 16 anos era "falta de sexo".
(Foto com Al Gore também foi alvo de montagem: a cabeça do ex-vice-presidente dos EUA e ecologista foi substituída pela do bilionário Soros, para disseminar notícia falsa)
A atitude de Greta Thunberg é ameaça à masculinidade e ao capitalismo e liberalismo econômico predatório mundial tipicamente machista — que destrói o planeta e enriquece majoritariamente homens, adultos ou idosos, brancos.
Ela apontou o dedo para adultos que estão se beneficiando da negação da ciência, como Trump e Bolsonaro. Não surpreende que a adolescente seja alvo de fake news, fenômeno que ajudou a eleger ambos os governantes.
Até mesmo Eduardo Jorge, político de centro ex-candidato à vice-presidente, criticou-a pelo tom "de raiva" e "ressentimento". Mesmo que sua mensagem seja importante e uma rápida pesquisa pudesse mostrá-lo que Greta Thunberg é autista.
Não é à toa que a grande maioria dos ataques públicos à Greta vem de homens. A postura de empoderamento de uma garota lutando contra dominação (mesmo que da natureza e da sua geração!) incomoda tanto assim. Uma adolescente que defende o direito ao futuro ofende quem quer sua geração e gênero silenciados — não é questão de convicção política, mas de ego, dinheiro e poder.