Estilo de vida
08/10/2019 às 07:00•2 min de leitura
O uso indiscriminado de antibióticos é tido como o responsável pelo surgimento das chamadas “superbactérias”. Esses perigosos organismos unicelulares possuem resistência a diversos antibióticos que teoricamente deveriam ser responsáveis por sua eliminação nas infecções. Tal fenômeno, além de ser responsável por um total estimado de 700 mil mortes anuais, complica o tratamento de doenças até então facilmente controláveis, como pneumonia, tuberculose e gonorreia.
São três os mecanismos de resistência bacteriana conhecidos. Em um deles, o chamado mecanismo enzimático de resistência, a bactéria produz enzimas que deterioram o antibiótico. Outra forma de resistência é a alteração do local-alvo de atuação do agente microbiano, obtida através da adição de um gene que “mascara” o alvo original. E, finalmente, na alteração da permeabilidade da membrana celular, a bactéria altera o número, a seletividade ou o tamanho das porinas, proteínas que controlam os canais pelos quais as substâncias conseguem passar para o espaço periplasmático e, em seguida, para o interior da célula.
Uma nova forma de resistência foi revelada na semana passada, quando uma equipe de pesquisadores da Newcastle University, liderada pela Dra. Katarzyna Mickiewicz, demonstrou que as bactérias podem “mudar de forma” dentro do corpo humano, para “driblar” a ação dos antibióticos, numa ação que não requer mudanças genéticas, ou seja, o microorganismo continua crescendo.
O estudo, publicado pela Nature Communications, explica que praticamente todas as bactérias são envolvidas por uma estrutura chamada parede celular. Essa camada se assemelha a uma grossa jaqueta que funciona como proteção aos estresses ambientais e evita o rompimento da célula. Além disso, é esse envoltório que determina a forma celular, como esferas ou bastonetes.
O que os pesquisadores agora descobriram é que diferentes espécies bacterianas, como a Escherichia coli e os Enterococcus tornaram-se capazes de sobreviver no corpo humano como células “formato L”, tipos de bactérias descobertas em 1935 pela microbiologista alemã Emmy Klieneberger, cuja característica principal é não possuir parede celular. Se, por um lado, a ausência dessa rígida camada torna as bactérias mais frágeis e deformadas, por outro elas se tornam invisíveis ao sistema imunológico, além de completamente resistentes a todos os tipos de antibióticos que têm como alvo específico a parede celular.
A descoberta é mais um capítulo na constante batalha entre o homem e as bactérias. Cada avanço científico, no entanto, implica na conhecida adaptabilidade evolutiva.