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Cervejaria Becker: entenda a intoxicação causada pela bebida em MG

14/01/2020 às 13:003 min de leitura

Desde 19 de dezembro do ano passado, uma doença misteriosa estava assolando Minas Gerais. Uma pessoa faleceu e sete foram internadas com sintomas de vômito, dor abdominal, insuficiência renal aguda, paralisia facial e visão turva. Durante as investigações realizadas, foi descoberto que todos moram ou estiveram no bairro de Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte.

A vigilância sanitária de Belo Horizonte e autoridades de saúde recolheram amostras de bebidas fornecidas pelos parentes das vítimas e as enviaram para análise. E na quinta-feira passada (09), agentes da Polícia Civil estiveram na cervejaria Backer (que fica em Olhos D’Água, também região Oeste da capital mineira), para apurar uma possível ligação com a doença misteriosa.

Cerveja Contaminada

Mensagens começaram a se espalhar na internet de que os pacientes teriam comprado a cerveja Belorizontina, fabricada pela cervejaria Backer. A empresa já tinha ido a público declarar que essas mensagens eram falsas e que a bebida não tem relação com os sintomas apresentados. Porém, ao ser procurada pela TV Globo para comentar sobre a presença policial na fábrica, sua assessoria de imprensa apenas afirmou que estão colaborando com as investigações e querem descobrir a verdade. Ainda disseram que a empresa está segura sobre seus produtos e aguardavam o laudo que negaria qualquer tipo de problema.

Produto com título internacional sofre recall

A Backer conquistou o título de melhor cervejaria do continente na Copa de Cervezas de América. A marca mineira recebeu ainda quatro medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze com seus diferentes rótulos.

Por isso, a decisão tomada nesta segunda-feira (13) pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) de intimar a empresa a fazer recall de todas as cervejas e chopes, além de suspender a venda de qualquer produto até ser descartada a possibilidade de contaminação, pode representar um grande problema de imagem para a Backer.

Segundo o MAPA, mais de 16 mil litros de bebida foram apreendidos e, na mesma noite da intimação, vários mercados já cumpriam a determinação e tiravam os produtos de suas prateleiras.

(Fonte: Danilo Girundi/TV Globo/Reprodução)

Intoxicação por anticongelante

Na fabricação de diversos produtos, é necessário o uso de anticongelantes. Dois deles são o dietilenoglicol e o monoetilenoglicol. Bruno Botelho, professor do Departamento de Química da UFMG e pesquisador sobre fabricação de cervejas, explicou que, na prática, ambos são muito parecidos, diferenciando apenas na quantidade necessária ingerida para causar uma intoxicação (sendo o monoetilenoglicol menos tóxico).

Segundo as investigações, os exames de sangue de quatro vítimas apresentaram dietilenoglicol, substância que pode ter provocado os sintomas da síndrome nefroneural. Nenhuma amostra de sangue apresentou monoetilenoglicol ainda, porém ela foi encontrada junto com o outro anticongelante em garrafas recolhidas na casa dos pacientes e dentro da cervejaria (todas da linha Belorizontina), e também em um dos tanques da fábrica.

Tales Bittencourt, superintendente da Polícia Técnico-Científica, diz que a contaminação pelo dietilenoglicol pode ser letal em quantidades a partir de 0,014 a 0,017 mg por quilo. Ou seja, para um homem de 70 quilos, de um a 1,2 gramas já poderia ser fatal.

Sabotagem ou erro?

A Backer garantiu que não usa dietilenoglicol e sua presença em um dos tanques está sendo apurada pela Polícia Civil. Existe a possibilidade de que um ex-funcionário descontente da empresa possa ter participado de uma suposta sabotagem, mas o delgado titular do inquérito, Flávio Grossi, disse em uma coletiva que não pode afirmar se o que ocorreu foi mesmo um ato premeditado ou apenas um erro que levou a um vazamento.

O que fazer em caso de contaminação?

Caso alguém apresente os sintomas e tenha tomado alguma cerveja Belorizontina dos lotes contaminados (L1 e L2 1348 e L2 1354), o indicado é procurar um médico imediatamente. No hospital, será feita uma avaliação clínica envolvendo exames neurológicos completos e de fundo de olho, e diversos testes laboratoriais para determinar a dosagem sérica do dietilenoglicol.

O tratamento envolve suporte geral em terapia intensiva, controle glicêmico, hidratação e correção de distúrbios eletrolíticos. Além disso, o antídoto de escolha será o etanol, e não o carvão ativado, muito comum em casos de envenenamento. Isso porque a primeira substância satura a desidrogenase hepática e evita a toxicidade do dietileno.

Existe um antídoto específico para casos assim no exterior, o fomepizole, mas, infelizmente, ele não está disponível em nosso país.

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