Artes/cultura
06/02/2020 às 11:00•2 min de leitura
Ao ser questionado sobre o corte de verbas voltadas a políticas públicas da mulher pelo Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, o presidente Jair Bolsonaro elogiou o trabalho realizado pela chefe da pasta, ministra Damares Alves, e defendeu a campanha do governo, que trata da prevenção à gravidez na adolescência, incluindo abstinência sexual como uma das medidas. Durante o assunto, o presidente disse que pessoas com HIV, “além de um problema sério para ela, são uma despesa para todos no Brasil”.
Dados do Ministério da Saúde indicam que 866 mil pessoas vivem com HIV-AIDS no Brasil. O SUS distribui gratuitamente todos os medicamentos antirretrovirais desde 1996 e há sete anos o governo provê tratamento para todas as pessoas que vivem com o vírus. A classe médica brasileira reconhece que essa medida foi pioneira no mundo e freou a disseminação da epidemia de AIDS no país.
A fala do presidente Jair Bolsonaro, associando a gravidez na adolescência à contração do vírus da AIDS foi fortemente criticada pela Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (Abia), que classificou-a como “infeliz”. Além disso, disse que “o peso de estigma e discriminação na resposta social é a maior barreira ao controle da epidemia”, e que tratando dessa forma sobre o tema o presidente “autoriza tacitamente o estigma, a discriminação e a violação dos seus direitos humanos”.
Pesquisas com soropositivos indicam que a maioria dos pacientes, mesmo clinicamente bem, são fortemente atingidos pelo preconceito. A maioria deles relata piora na saúde financeira e perda de emprego. Outros acabam saindo de seus empregos por receio de tornar o assunto público, escondendo inclusive de amigos e familiares sua situação.
Membro do Conselho Nacional de Saúde, representando a Articulação Nacional de Luta Contra a Aids, o ativista Moysés Toniolo reiterou o papel do SUS no tratamento da AIDS, direito instituído pela Constituição Federal de 1988. Também criticou o presidente por instituir “um estigma como se toda pessoa com HIV fosse culpada pela sua infecção, mostrando ignorância e preconceito sobre uma epidemia onde o Brasil foi referência por saber lidar com a assistência, tratamento e respeito aos direitos humanos”.