Estilo de vida
20/05/2020 às 02:00•3 min de leitura
Um estudo publicado online a última quarta-feira (13), na revista Royal Society Open Science, apresentou algo muito interessante: restos de dois peixes antigos e já extintos que possuíam dentes afiados nas mandíbulas inferiores e um enorme "dente de sabre" na parte superior.
Essas criaturas são tão estranhas que não existe outra espécie de peixe conhecida que possua características parecidas.
Anatomia do crânio do Monosmilus chureloides (Fonte: The Royal Society Open Science/Reprodução)
Os cientistas nomearam um deles de Monosmilus chureloides, que pode ser basicamente traduzido para “churel de faca única”. Mas o que seria um churel? É um demônio vampiro com grandes presas afiadas que faz parte do folclore de vários países do sul da Ásia, incluindo no Paquistão, local onde o fóssil foi descoberto.
Contudo, as duas criaturas singulares possuem histórias de origem bem diferentes. Uma delas foi descoberta na Bélgica e apresentada pelo paleontólogo Edgar Casier em 1946, que a chamou de Clupeopsis straeleni. Este peixe possuía quase 28 centímetros de comprimento e viveu durante a época do Eoceno, cerca de 50 milhões de anos atrás.
Já o M. chureloides, com 1 metro de comprimento, habitou os mares rasos da área que viria a se tornar o Paquistão a cerca de 45 milhões de anos atrás. Isso significa que ele viveu na mesma época e local que algumas das primeiras baleias quadrúpedes, incluindo as Dalanistes.
Segundo Alessio Capobianco, estudante de doutorado do Departamento de Ciências da Terra e do Ambiente da Universidade de Michigan, este peixe possuía 16 dentes curvos em forma de presa na mandíbula, sendo menores na parte de trás e progressivamente maiores na frente.
A presa mais longa tinha 2 centímetros, ou seja, quase 20% do comprimento de toda a cabeça. Além disso, assim como os tubarões, o M. chureloides provavelmente trocava seus dentes periodicamente, pois foram encontrados alguns dentes substitutos crescendo na mandíbula.
Na mandíbula superior havia uma presa gigante e curva que o pesquisador apelidou de “dente de sabre”. Capobianco explicou que “quando a boca estava fechada, [essa presa] se estendia do topo da boca até o fundo de seu queixo. No entanto, é difícil criar uma hipótese exata de seu objetivo, já que nenhum peixe hoje possui dentes semelhantes. Pode ser que os dentes longos formassem uma espécie de armadilha ou gaiola para peixes menores, ou poderiam ter sido usados para perfurar outros peixes”.
Fóssil do Clupeopsis straeleni (Fonte: Capobianco et al./Reprodução)
Entretanto, o estudante de doutorado ressaltou que isso é apenas uma suposição, afinal o único exemplar do M. chureloides foi encontrado em 1977, durante uma expedição conjunta da Universidade de Michigan e da agência de Pesquisa Geológica do Paquistão.
Porém, ele só foi examinado recentemente, quando Capobianco e seu orientador, Matt Friedman — pesquisador sênior do estudo e professor associado de paleontologia e diretor do Museu de Paleontologia da Universidade de Michigan - iniciaram as pesquisas.
Após uma tomografia computadorizada exibir os assustadores dentes do M. chureloides, Friedman lembrou do fóssil igualmente estranho do C. straeleni, o que levou a equipe a realizar uma comparação entre os dois.
Capobianco explicou que "o Clupeopsis e o Monosmilus estão claramente relacionados, porque não há outro peixe conhecido (vivo ou extinto) que possua o mesmo complemento de dentes: uma fileira de dentes grandes como dentes de presa na mandíbula inferior, sem dentes na margem da mandíbula superior e um único dente de sabre gigante no topo da boca. Simplesmente não existe outro peixe com algo que se pareça com isso”.
Tão pequenininhas e inofensivas! Nem parecem que estão ligadas com "peixes vampiros"... (Fonte: Getty Images/Reprodução)
O mais interessante é que uma análise anatômica desses peixes com dentes de sabre revelou que eles estão intimamente ligados às anchovas. O pesquisador disse que essa foi uma outra grande surpresa, pois as anchovas atuais são bem menores do que suas antigas formas extintas, além de só se alimentarem de plâncton e possuírem dentes muito pequenos.
Porém, não é muito estranho que esses dois peixes peculiares tenham passado por uma espécie de apogeu durante o início do Eoceno. “A maioria dos tipos de peixes que podemos observar no mar hoje em dia se originou durante este período crítico de tempo. Paralelamente a eles, bizarros 'experimentos evolutivos', como as anchovas com dentes de sabre, também evoluíram e se diversificaram, mas por algum motivo não chegaram até os dias modernos”, ressaltou Capobianco.