Artes/cultura
09/06/2020 às 03:00•2 min de leitura
Num artigo publicado na revista científica Nature na última quarta-feira (3), uma equipe de sete cientistas do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI) da Califórnia e da Pontificia Universidad Catolica de Chile demonstraram um novo tipo de equipamento de imagem a laser capaz de literalmente lançar luz sobre os seres abissais do fundo do mar.
O estudo da vida marinha em grandes profundidades tem sido um desafio para a Biologia. A evolução dos seres num mundo sem nenhuma gravidade, luz ou superfícies duras, engendrou formas corporais mais parecidas com alienígenas do que com os seres da superfície.
Para a bioengenheira Kakani Katija, autora principal do artigo do MBARI, "o muco é onipresente no oceano, e estruturas mucosas complexas são feitas por animais para alimentação, saúde e proteção. Agora que temos uma maneira de visualizar essas estruturas [...], podemos finalmente entender como elas funcionam e quais papéis desempenham no oceano. ”
Kakani Katija na sala de controle das operações. (Fonte: Kim Reisenbichler/MBARI / Reprodução)
O novo dispositivo ótico utilizado pelos biólogos é um sistema de imagem chamado DeepPIV. Ele emite um leque fino de laser que faz uma varredura nos animais, depois reúne os raios retroespalhados dos fluxos e tecidos internos e alimenta um computador com os dados.
Como se montasse um quebra-cabeças, o computador faz a reconstrução visual desses organismos em detalhes sutis, revelando a sua estrutura interior, da mesma forma que uma tomografia computadorizada registra corpos humanos.
Reconstrução em 3D dos filtros de uma larvácea. (Fonte: MBARI/Digital Life Project / Reprodução)
O objeto de observação no estudo publicado foi um dos arquitetos de muco mais produtivos de águas profundas: os animais larvaceanos. Essas larvas são abundantes em todos os oceanos, e variam de um até dez centímetros de comprimento.
Existem também larvacenos "gigantes" que desenvolvem invólucros cheios de muco como balões, que chegam a ter um metro de diâmetro. Essas estruturas funcionam como filtros externos. Dentro deles há filtros internos menores (do tamanho de um punho) usados para alimentação.
Embora possuam corpos extremamente frágeis, as larváceas conseguem extrair quantidades consideráveis de alimentos ricos em carbono da água do mar. Se os filtros entopem, os animais liberam seus invólucros cheios até o fundo do mar.
Essa atividade, além de levar "comida grátis" para os animais das profundezas, tem importante função ecológica: ajudar o oceano a remover dióxido de carbono da atmosfera, além de depositar no fundo do mar microplásticos presentes na água.