Artes/cultura
24/08/2020 às 03:00•2 min de leitura
Você já deve ter visto que muitas espécies de aves constroem seus ninhos atrás de cachoeiras. Muitas vezes, o acesso não é possível contornando a queda, sendo necessário atravessar o fluxo de água. Como que o passarinho não é levado pela força da água? O mesmo vale para animais voando em meio a fortes chuvas: os pingos não fazem eles caírem? Até fazem, mas com tentativa e erro essas espécies aprendem, e o mecanismo para isso é impressionante.
Para tentar estudar como isso acontece, os pesquisadores fizeram uma experiência com beijas-flores. Ainda que essa espécie raramente crie sua nidificação nas rochas atrás de cachoeiras, ela é muito semelhante a outras que possuem esse costume, como os estorninhos e os andorinhões.
A pesquisa contou com 4 colibris-de-Anna (Calypte anna), que tem seu nome em homenagem a Anna Massena, duquesa francesa casada com o ornitólogo François Victor Massena, que descobriu a espécie no século XIX. A escolha pelos beijas-flores se deu por seu tamanho menor e pela facilidade de trabalhar com eles dentro de laboratórios.
Para a experiência, biólogos da Universidade Estadual de Kennessaw, na Geórgia (EUA), construíram um tanque de 54 litros que tinha um pote de comida de um lado e um poleiro do outro. No meio do caminho, havia uma cachoeira artificial de 3 mm de espessura. Apesar de parecer pequeno, o fluxo era muito mais forte do que o de uma chuva, por exemplo, e isso facilitou na compreensão do mecanismo usado pelo pássaro.
A expectativa dos pesquisadores era de que o beija-flor entraria na queda-d'água de cabeça e com as asas abaixadas, atravessando-a como uma bala, mas não foi isso que eles observaram. Ainda que um tenha feita uma manobra semelhante, os outros três pássaros deslizaram de lado, abrindo uma fresta na cortina de água com a asa e passando o resto do corpo. “Nada na literatura poderia prever isso”, explica Víctor Ortega-Jiménez, principal autor do estudo.
Dessa maneira, enquanto uma das asas está segurando a água, a outra gera o empuxo para ele não ser arremessado para o fundo da cachoeira. Assim que metade do corpo passa, a função das asas se inverte. Esse momento pode ser visto no esquema abaixo:
Movimento do beija-flor chamou a atenção dos cientistas
A experiência não foi bem sucedida com insetos. Os cientistas usaram moscas-domésticas, moscas-berneiras e moscas-gruas. Nenhuma se deu muito bem ao atravessar a queda-d'água. Uma ou outra das domésticas até cruzou a barreira, mas caiu logo depois. As outras nem conseguiram romper a tensão superficial da água e morreram afogadas.
Isso também leva a outra conclusão sobre as nidificações de pássaros atrás de cascatas: além de prevenir a caça predatória de outras aves, também previne que insetos sugadores de sangue se alimentem dos filhotes. A próxima etapa da pesquisa será estudar como os andorinhões atravessam as cachoeiras.