Artes/cultura
11/09/2020 às 08:00•2 min de leitura
Como qualquer ave (ou mamífero), o pequeno colibri-negro-de-rabo-de-metal (Metallura phoebe) é um animal homeotérmico, ou de sangue quente: seu organismo mantém uma temperatura constante, independente do calor do ambiente.
Como sabemos (já que também somos animais homeotérmicos), manter a temperatura corporal demanda bastante energia e pode ser complicado em locais mais frios — como as montanhas onde vive o colibri-negro, com noites de temperaturas muito baixas.
Levando em conta que o pássaro precisa visitar mais de 500 flores por dia para manter seu corpinho de 6 gramas funcionando durante o dia — com 1.200 batimentos cardíacos por minuto — ele deve precisar de bastante energia para se manter aquecido durante a noite, certo? Na verdade, não. A espécie desenvolveu um mecanismo de sobrevivência muito inteligente: ela resfria seu corpo durante a noite, em um estado de quase-morte.
O colibri-negro-de-rabo-de-metal pesa apenas 6 g, mas precisa visitar centenas de flores por dia para se alimentar (Fonte: Peru Aves/Reprodução)
Durante o dia, o organismo do colibri-negro-de-rabo-de-metal funciona a cerca de 40 °C. Mas, a noite, ele resfria seu corpo até cerca de 3 °C e diminui as batidas de seu coração de 1.200 para apenas 40 batimentos por minuto. Segundo o artigo que divulgou essa descoberta no jornal científico Biology Letters essa é a maior queda de temperatura corporal já registrada em um pássaro ou em animais que não hibernam.
"Se você não soubesse disso, poderia achar que eles estão mortos", afirma o professor Blair Wolf, da Universidade do Novo México, que coordenou o estudo. Mas esse frio todo é justamente um mecanismo de sobrevivência. Trata-se de um estado de animação suspensa, em que todas as funções do organismo desaceleram, mantendo apenas o estritamente necessário para continuar vivo.
Assim, o colibri consegue economizar 95% de energia e sobreviver até o próximo amanhecer. Quando as temperaturas voltam a subir na montanha, o colibri balança seus pequenos músculos e reativa o corpo para mais um dia.
Esse é o jeito que o colibri-negro-de-rabo-de-metal encontrou para sobreviver acima de 5 mil metros do mar, nos Andes peruanos. Fora isso, a vida lá é ótima: muitas flores para colher nectar e poucos predadores. Congelar a si mesmo enquanto dorme vale muito a pena para a espécie. "É uma adaptação notável", afirma o professor Wolf.