Artes/cultura
02/10/2020 às 09:00•2 min de leitura
Uma escavação na Espanha lançou uma nova luz sobre os rituais executados durante o Neolítico, na Península Ibérica.
Pesquisadores da Universidade de Sevilha encontraram dois crânios humanos, o esqueleto de um cabrito jovem e um altar de pedra do Período Neolítico Médio (de 4800 a 4000 a.C) em Cueva de la Dehesilla, em Cádiz.
A estrutura e os artefatos encontrados apontam para a possibilidade de ter acontecido um ritual de sacrifício humano. O estudo foi publicado no PLOS ONE.
“Essa descoberta abre novas linhas de pesquisa e cenários antropológicos em que o sacrifício de humanos e animais pode ter sido relacionado a cultos ancestrais, rituais propiciatórios e orações divinas em festas comemorativas,” declarou o autor do estudo, o arqueólogo Daniel García-Rivero, em um release à imprensa.
Os crânios pertenceram a um homem e uma mulher adultos. O crânio feminino tem uma depressão no osso frontal, o que indica uma trepanação incompleta, além de cortes no osso occipital que apontam para uma decapitação.
A trepanação era um procedimento cirúrgico que consistia na perfuração do crânio. Na Antiguidade, a prática poderia ser feita para o tratamento de ferimentos, mas também para extrair espíritos do corpo do paciente por meio de um ritual.
Neste caso, a trepanação não foi completada. Marcas de cortes no crânio indicam que a cabeça foi removida do corpo depois que a pessoa morreu.
“O tratamento diferenciado dos crânios junto com evidências traumatológicas e animais sacrificados, bem como as estruturas e materiais arqueológicos documentados não correspondem ao registro funerário normativo com o qual trabalhamos até agora,” explicou García-Rivero.
Para os pesquisadores, a maior contribuição da descoberta é entender mais sobre os rituais funerários de um período com poucas informações sobre as populações neolíticas da Península Ibérica.
Os registros existentes sobre a época indicam que a maioria dos sepultamentos eram individuais. A nova descoberta mostra um cenário nunca visto antes, ainda mais com as estruturas de pedras documentadas.
Com isso, será possível aprofundar os estudos das diferenças entre as populações da Idade da Pedra no Sul da Península Ibérica e as pessoas que viviam mais ao leste.