Artes/cultura
14/10/2020 às 03:00•2 min de leitura
A febre escarlatina, que matou muitas crianças no século XIX, ressurgiu graças a uma mutação bacteriana, depois de praticamente ser erradicada na década de 1940. É o que sugere um estudo liderado por cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, publicado na revista Nature, no início de outubro.
Controlada após o advento dos antibióticos, ela voltou a aparecer misteriosamente, com surtos na Ásia (2011) e no Reino Unido (2014). Recentemente, novos casos isolados também foram registrados na Austrália.
A partir daí, pesquisadores começaram a estudar a bactéria Streptococcus pyogenes, causadora da doença, e descobriram que uma cepa específica passou por mutação. Essa mudança surgiu após a infecção por um bacteriófago.
Depois do contato com o vírus que infecta bactérias, os clones do streptococus do grupo A se tornaram capazes de produzir toxinas chamadas superantígenos. Eles estariam diretamente ligados aos últimos surtos, de acordo com o biólogo molecular da Universidade de Queensland Stephan Brouwer, causando “mais de 600 mil casos em todo o mundo”.
Uma destas toxinas parece ter tornado a bactéria mais forte, dando a ela uma maneira mais eficiente de infectar as células, algo nunca antes visto entre tais patógenos, segundo Brouwer.
“Nós mostramos que essas toxinas adquiridas permitem que o Streptococus pyogenes colonize melhor seu hospedeiro, o que provavelmente possibilita a ele superar outras cepas na competição”, comentou o biocientista da Universidade de Queensland Mark Walker, outro participante da pesquisa.
Para Walker, o processo de transferência horizontal de genes, responsável pela mutação, também pode torná-la quimicamente mais resistente. Apesar de ela ainda ser suscetível a alguns antibióticos, essa novidade faz o desenvolvimento de vacinas ser essencial para manter a infecção sob controle.
Doença que atinge crianças de 2 a 10 anos de idade, principalmente na primavera, a escarlatina pode apresentar sintomas como febre baixa, vermelhidão na pele e na língua, dor de garganta e dificuldade em deglutir. O tratamento é com antibióticos.
A transmissão se dá pelo contato direto com a secreção nasal ou saliva de infectados, mas com o distanciamento social por causa da covid-19, os pesquisadores acreditam que os surtos permanecerão controlados, por enquanto.