Artes/cultura
23/11/2020 às 14:00•2 min de leitura
Você consegue imaginar qual era o cheiro das cidades europeias do século 16? Os cientistas acreditam que era uma mistura de tabaco, especiarias e pesticida, mas isso está sendo investigado e aprofundado. A ideia é, em breve, podermos dar uma fungada no cheirinho do passado.
Para a empreitada, cientistas de diversas áreas, com ajuda de inteligência artificial, se reuniram para recriar o cheiro de objetos da Europa desde o século 16 até o começo do século 20. O ousado programa foi apelidado de Odeuropa.
A tecnologia será desenvolvida para identificar as descrições de odores e imagens de artefatos aromáticos em cerca de 250 mil documentos escritos em 7 idiomas diferentes. Depois, será criada uma enciclopédia online sobre os cheiros da Europa, com a descrição de cada aroma. A ideia é disponibilizar a coleção para museus, além da internet.
Entre os cenários imaginados está o do século 17: Londres provavelmente cheirava a remédio contra a peste, como alecrim e alcatrão queimado. Já no século 18, a medicina usava sais aromáticos para tratar convulsões e desmaios.
Além dos cheiros, os cientistas querem entender como os odores evoluíram ao longo dos séculos. Isso pode ajudar no entendimento de como os objetos se degradaram ou como foram preservados durante os anos. O tabaco, por exemplo, era uma mercadoria exótica quando chegou da América no final do século 15. Apenas a alta sociedade consumia. Entretanto, com o passar dos anos, o produto passou a ser cada vez mais acessível a toda a população.
“É uma mercadoria introduzida na Europa no século 16 que começa como um tipo de cheiro muito exótico, mas logo se torna domesticado e se torna parte do cheiro normal de muitas cidades europeias”, explica William Tullett, da Universidade Anglia Ruskin, em Cambridge. Segundo ele, no século 18, o cheiro do tabaco já incomodava teatros e cinemas lotados.
O projeto é financiado pela União Europeia e está custando US$ 3,3 milhões. A previsão é de que ele seja concluído em 3 anos. Além das descrições, existe a possibilidade de um trabalho conjunto com químicos e perfumistas a fim de recriar os cheiros descritos. Isso permitiria que visitantes de museus pudessem ter uma experiência sensorial inesquecível.
Em York, por exemplo, o Centro Viking Jorvik tem recriações de odores do século 10. “Uma das coisas que o Jorvik demonstra é que o cheiro pode ter um impacto real na maneira como as pessoas se relacionam com os museus”, analisa Tullett.