Ciência
02/03/2021 às 12:00•2 min de leitura
Um novo estudo científico que busca entender como os organismos dos cetáceos conseguem controlar o câncer com muito mais eficiência do que a humanidade em geral pode ser uma estratégia para novos tratamentos da doença em seres humanos.
Publicado no mês passado (24) na revista Proceedings or The Royal Society B, a pesquisa parte do princípio de que as baleias são animais conhecidos por ter uma vida longa (algumas chegam aos 200 anos) e uma das taxas mais baixas de câncer entre todos os mamíferos, inclusive os homens.
Logicamente, as baleias não se destacam apenas por esses detalhes, mas principalmente pelo seus tamanhos avantajados em relação à classe: a baleia-azul, por exemplo, com suas 150 toneladas de peso e 25 metros de comprimento, é o maior animal que já existiu na Terra.
Baleia azul (Fonte: AFP/Reprodução)
É aí que surge o problema do estudo: ““Se você tem mais células, isso significa que o risco de uma dessas células se tornar cancerosa aumenta”, diz Daniela Tejada-Martinez, da Universidade Austral do Chile e autora sênior da pesquisa.
Essa contradição, conhecida como Paradoxo de Peto, faz todo sentido, pois bastaria um pequeno erro durante o processo de replicação desse gigantesco material genético para produzir uma célula capaz de gerar um tumor maligno. Mas, segundo esse raciocínio, a baleia nem sequer existiria, porque seus antepassados teriam morrido de câncer antes de atingir a maturidade sexual.
O fato é que os cetáceos, como baleias, golfinhos e botos, desenvolveram mecanismos melhores de proteção ao câncer.
Fonte: Tejada-Martinez et al./Divulgação
Os cientistas da Universidade Austral do Chile analisaram a evolução de 1077 genes supressores de tumor (TSG’s) em 15 espécies de mamíferos, incluindo sete espécies de cetáceos. Os genes estudados são responsáveis por regular o ciclo celular e impedir que um erro se transforme em um tumor maligno.
Os resultados da pesquisa revelaram uma produção de TSG’s em cetáceos 2,4 vezes maior que em outros mamíferos. Um gene regulador de danos no DNA, o CXCR2 foi selecionado no ancestral comum que deu origem às baleias e aos golfinhos. Foi também relatada a duplicação de 71 genes nos cetáceos, 11 deles ligados à longevidade, todos relacionados com eclosão de tumores.