Artes/cultura
16/03/2021 às 05:00•2 min de leitura
Pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, comprovaram que a técnica do "palácio de memórias" do famoso detetive Sherlock Holmes, conhecida como Método de loci, realmente funciona, após testá-la em uma equipe de atletas classificados nas maiores competições de memória do mundo.
Graças à sua mente incrivelmente funcional, Sherlock Holmes pôde se destacar como um dos maiores investigadores criminais da literatura universal. Devido a seu trabalho envolvendo a refação de pistas e a constante busca por cenários visuais, o treino de suas recordações tornou-se imprescindível para obter sucesso em seus casos, fazendo-se necessário a utilização do chamado palácio de memórias, uma espécie de lugar familiar cognitivo onde fragmentos são guardados como partes de informações.
Para resgatar uma informação através do Método de loci, é necessário "soltá-la" ao longo de um caminho mental e depois refazer os passos para "capturá-la". Dessa forma, os usuários da técnica precisam apenas memorizar um local real com o qual são familiarizados para que possam se imaginar caminhando por ele, e assim vão jogando fragmentos de lembranças em pontos específicos da travessia, enquanto para resgatá-los basta retornar ao mesmo ponto.
(Fonte: ABC / Reprodução)
Até o momento, sabe-se que a técnica mnemônica consegue armazenar memórias de curto prazo, sendo inclusive bastante praticada pelos maiores campeões mundiais de torneios de memória. Porém, novos testes comprovaram que com bastante treino é possível inserir lembranças por períodos duradouros, e que a prática pode ser realizada tanto por pessoas experientes quanto por quem nunca sequer ouviu falar do palácio.
Em um primeiro momento, pesquisadores da Universidade de Viena registraram 17 dos 50 melhores “atletas de memória” e 16 pessoas com características etárias e cognitivas semelhantes. Após exames de ressonância magnética funcional (fMRI) em cada um dos voluntários, foi iniciada uma série de jogo de palavras que deveriam ser lembradas em curto prazo.
As memórias de longo prazo foram testadas em um segundo momento, com o apoio de 50 novos participantes divididos em treinados com o Método de loci, com o treinamento de memória de trabalho e parcialmente treinados. Assim, os voluntários foram levados a decorar palavras de listas em um período de 20 minutos (memórias fracas) e 24 horas (memórias duráveis), e quatro meses depois foram novamente convocados para que suas capacidades de armazenamento fossem retestadas.
(Fonte: ABC / Reprodução)
Os resultados comprovaram que os usuários do Método de loci tiveram uma vantagem significativa em relação aos outros dois grupos e mostraram um aumento significativo na capacidade de recordar memórias duráveis. Após 20 minutos, os voluntários treinados com a técnica mnemônica lembraram de 61 palavras, contra 41 do grupo alternativo e 36 dos não treinados, enquanto após 24 horas os usuários da técnica de Holmes lembraram de 56 palavras, contra 30 e 21 respectivamente.
Já quatro meses após os primeiros exames, os voluntários do Método de loci lembraram de 50 palavras, sendo um desempenho quase 50% maior do que o dos outros grupos. Além disso, eles se sobressaíram até mesmo em relação aos campeões mundiais em torneios, visto que esses últimos tiveram uma queda de desempenho em relação aos participantes da segunda fase dos testes.
"Obviamente, requer tempo e prática regular e, portanto, pode não ser adequado para todos, mas é definitivamente possível 'aumentar' a memória e alcançar um desempenho de memória alto, ou mesmo excepcional", disse a neurocientista autora do projeto Isabella Wagner. "No entanto, estamos bastante entusiasmados com esses resultados, e uma avenida de novas questões que se abre deve dar aos estudos futuros amplo material para investigar."