Passarinho que esqueceu canto de acasalamento pode ser extinto

25/03/2021 às 06:002 min de leitura

Uma das aves mais raras do mundo, o melífago-regente (Anthochaera phrygia), pássaro que vive no sudeste da Austrália, teve sua população reduzida nos últimos anos para cerca de 300 espécimes, e está ameaçado de extinção porque esqueceu como se canta a canção do acasalamento, segundo os especialistas.

Jss367/Wikimedia Commons/ReproduçãoJss367/Wikimedia Commons/Reprodução

Essa melodia, extremamente complexa segundo os ornitólogos, foi se simplificando com o passar dos anos, a ponto de os melífagos-regentes machos deixarem de cantar como os demais de seu gênero. A suposição mais aceita era de que os bichinhos simplesmente se esqueceram como cantar, o que poderia representar um risco de extinção para a espécie.

Para tornar ainda mais misteriosa a saga cantante do melífago-regente, os ornitólogos começaram a perceber que esses pássaros começaram a imitar os cantos de outras espécies de pássaros, como os monges-de-capacete, os currawongs-malhados e os cucos-de-cara-preta. Acreditava-se que esse mimetismo visava evitar o ataque de pássaros maiores. Mas um estudo atual esclarece a mudança desse canto.

O que aconteceu com o canto dos melífagos-regentes?

Fonte: Mark Gillow/ReproduçãoFonte: Mark Gillow/Reprodução

Na quarta-feira passada (17), um novo estudo publicado na revista Proceedings of The Royal Society B é definido pelo seu autor, o ecologista Dr. Ross Crates da Escola de Meio Ambiente Fenner, da Austrália, da seguinte forma: “Os pobres pássaros não estão tendo a chance de aprender o que deveriam cantar”.

De acordo com o pesquisador, os jovens melífagos-regentes aprendem os seus cantos com os membros adultos da espécie, da mesma forma que crianças humanas aprendem a falar com os pais. Mas, como esses comedores de mel estão muito espalhados atualmente em seus habitats, eles não encontram outros “colegas” da espécie e não aprendem como o canto deve soar.

Quando ainda filhotes, os melífagos-regentes são ensinados a ficar em silêncio em seus ninhos para não atrair predadores. Dessa forma, eles irão aprender os seus cantos ao começar a voar, ouvindo outros adultos da espécie e imitando-os. Mas, como estes são poucos, os jovens comedores de mel começam a copiar o canto de outras aves, que não é a melodia que as fêmeas querem ouvir.

Enfim, o estudo comprovou a hipótese de que um sério declínio na densidade populacional dos melífagos-regentes deve-se à perda da cultura vocal de um animal livre na natureza, com reflexos negativos nos demais indivíduos.

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