Artes/cultura
14/04/2021 às 08:00•3 min de leitura
Originada do grego taphos (“sepultura” ou “tumba”) e phobos (“medo”), a tafofobia é o medo psicopatológico de ser enterrado vivo, em decorrência de um resultado incorreto de morte. Esse tipo de pânico era mais frequente antes da era da medicina moderna, quando os diagnósticos eram imprecisos devido à falta de tecnologia e estudos na área.
No século XIV, há relatos de que o filósofo John Duns Scotus, da Alta Idade Média, foi encontrado fora de seu caixão e caído em seu mausoléu, com as mãos dilaceradas, sugerindo que ele estava vivo quando foi enterrado e tentou escapar.
Em meados de 1600, uma mulher chamada Alice Blunden foi enterrada viva após ser considerada morta após um médico examinar a boca e o nariz dela com um espelho. Blunden acabou entrando em um estado profundo de desmaio após beber uma grande quantidade de chá de papoula. Dois dias depois do enterro da mulher, crianças que brincavam perto do túmulo dela ouviram ruídos vindo da sepultura. Quando escavaram o local e abriram o caixão, encontraram a tampa dele arranhada e trincada.
(Fonte: Medium/Reprodução)
A tafofobia era algo tão presente na sociedade que, em 1972, o duque Ferdinand de Brunswick encomendou o primeiro "caixão de segurança" já registrado na História. Ele pediu para que marceneiros instalassem uma janela para permitir a entrada de luz, um tubo de ar e que fosse instalado uma fechadura na tampa, que não deveria ser pregada. Quando enterrado, Brunswick recomendou que colocassem duas chaves em seu bolso: uma para a tampa do caixão e outra para a porta de seu mausoléu.
Pensando nisso, em 1798, o padre alemão P.G. Pessler sugeriu que todos os caixões possuíssem um tubo, a partir do qual uma corda sairia e chegaria até os sinos da igreja mais próxima. Sendo assim, se a pessoa estivesse viva, ela poderia chamar atenção puxando a corda. Contudo, a ideia era inviável em diversos aspectos, por isso foi logo descartada.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Até que em 1829, o Dr. Johann Gottfried Taberger projetou um sistema de alerta usando um sino que alertaria o coveiro ou vigia do cemitério. Antes de ser enterrado, cordas, através de um tubo levando até um sino dentro de uma caixa, seriam presas às mãos, pés e cabeça do cadáver, que levariam a um pequeno sino sobre a sepultura. Sendo assim, se a campainha tocasse insistentemente, o vigia teria apenas que bombear ar para dentro do caixão com um fole para que a pessoa sobrevivesse até que fosse desenterrada.
O recurso foi muito usado durante a Era Vitoriana, na Inglaterra, em um momento em que os habitantes eram assombrados pelo índice alarmante de mortalidade infantil.
(Fonte: Cult of Weird/Reprodução)
Quando a epidemia de cólera devastou o século XIX, originando-se na Índia de 1817, o aumento de relatos de sepultamentos vivos não intencionais cresceram ainda mais, fazendo a tafofobia se transformar em uma espécie de "pandemia".
Em 1844, Edgar Allan Poe foi o responsável por inflamar essa fobia ainda mais ao publicar sua obra O Enterro Prematuro, descrevendo supostos casos reais de pessoas que acordaram dentro dos próprios caixões. A narrativa serviu para alavancar a indústria dos “caixões de segurança”, com tampas de observação, cordas para sinos e tubos de respiração para sobrevivência até o resgate. Tudo o que os ricos podiam pagar, enquanto os pobres chegaram a preservar cadáveres de entes queridos em casa até que entrassem em estado de putrefação.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Foi formado em 1896 a Associação para a Prevenção de Enterro Prematuro, onde os membros tafófobos tinham um acordo com médicos de confiança para realizarem testes específicos que garantissem que eles estavam mortos, como serem perfurados em vários lugares do corpo e até mesmo diretamente no coração.
Em 1905, em um levantamento feito pelo reformador inglês William Tebb, foram registrados 219 casos de pessoas que acordaram enquanto eram sepultadas, 10 casos de dissecação viva e 2 casos de pessoas que acordaram enquanto eram preparadas para embalsamamento.
Atualmente, a tafofobia como caso clínico é muito rara no mundo desenvolvido, embora ainda haja casos em alguns lugares do mundo, geralmente entre pessoas mais velhas e que possuem algum grau de transtorno mental.