Artes/cultura
27/04/2021 às 05:00•3 min de leitura
No final do século XIX, a empresa Southall Brothers & Barclay, de Birmingham, no Reino Unido, anunciou o primeiro tipo de absorvente higiênico para uso feminino. Depois que a Hartmann Company da Alemanha lançou seu produto, foi a vez da Johnson & Johnson comercializá-lo nos Estados Unidos.
Contudo, foi apenas o Kotex, lançado no início de 1920 pela empresa Kimberly-Clark, que conseguiu se infiltrar na sociedade norte-americana de maneira eficaz. Antes dos absorventes higiênicos se popularizarem, a maioria das mulheres tinha que lidar com a ansiedade social – prevalecente hoje – e os panos reutilizáveis feitos em casa para conter o fluxo da menstruação. Muito embora as pessoas soubessem que as mulheres menstruam, isso ainda era visto como uma parte nojenta do corpo feminino, que atraía olhares de repúdio dos homens e de censura de outras mulheres, portanto deveria ser mantido em segredo.
Havia algumas opções no mercado para as mulheres que podiam pagar por dispositivos de contenção, tais como o cinto higiênico Hoosier, que mantinha os panos absorventes no lugar; ou as Toalhas de Lister, que foi a primeira opção de panos descartáveis da indústria.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Formada na década de 1870, a empresa Kimberly-Clark era destinada para a produção de papel, e no começo da Primeira Guerra Mundial começou a produzir bandagens de um material chamado cellucotton. Feito a partir da polpa da madeira, o produto era cinco vezes mais absorvente do que as bandagens de algodão comum, porém bem menos cara – o que viabilizou totalmente o processo de produção.
Com o fim da guerra, os executivos da empresa passaram a procurar maneiras de dar outro destino ao cellucotton. A resposta veio por meio das enfermeiras do Fundo Americano para os Feridos Franceses, que enviaram cartas alegando que usavam as bandagens como absorventes improvisados e pedindo para que não parassem de fazer o produto.
Walter Luecke, funcionário da Kimberly-Clark, viu nessa declaração uma oportunidade de transformar o produto em pequenos, eficazes e discretos absorventes higiênicos. Além disso, algo destinado para atrair cerca de metade da população norte-americana seria o suficiente para substituir a demanda do tempo de guerra, transformando o empreendimento em uma máquina de fazer dinheiro.
(Fonte: Women's Health/Reprodução)
Entretanto, as empresas contratadas por Luecke para a produção do absorvente em larga escala não concordaram com o novo projeto, argumentando que era algo muito pessoal e que jamais poderia ser vendido de modo lucrativo. O mesmo tipo de dúvida chegou aos membros do conselho da Kimberly-Clark, então Luecke insistiu para que a própria empresa produzisse o absorvente.
Incumbido de criar um nome tão discreto quanto o produto, o funcionário pensou em "Kotex", inspirado a partir da palavra "cotton", visto que o absorvente tinha uma textura de algodão.
(Fonte: Wikiwand/Reprodução)
A Kimberly-Clark disseminou o absorvente por meio de anúncios em famosas revistas femininas da década de 1920, como a Good Housekeeping e a Ladies Home Journal. No entanto, nem todas as mulheres ficaram satisfeitas com a maneira como a menstruação foi retratada nas publicidades, principalmente pelo fato de que a fundadora da marca reforçou que "não era algo natural".
Todos os anúncios apresentavam uma mulher solteira ou um grupo de mulheres em poses ativas e confortáveis, alegando que os absorventes "eram a chave para garantir aquele conforto de verão e equilíbrio nos vestidos mais elegantes". Comercializado em uma embalagem simples e pequena, os slogans do Kotex sempre deixou claro que a menstruação era algo que precisava ser ocultado.
Com o decorrer dos anos, a visão do produto se afastou ainda mais da imagem de mulheres reais em situações cotidianas para mulheres em elegantes piqueniques, festas ou jantares, transformando o absorvente em um acessório de luxo e não em algo essencial. Sendo assim, o Kotex adquiriu um caráter moderno e já não tinha mais nada a ver com higiene e cuidado feminino.
(Fonte: The Conversation/Reprodução)
Apesar disso tudo, o Kotex se tornou uma febre nacional desde a primeira caixa, vendida em 1921 na loja de departamento Woolworth’s, em Chicago. Além disso, também serviu para ressignificar a maneira como as mulheres lidariam com a menstruação daquele momento em diante.
No mundo dos negócios, o Kotex foi o primeiro absorvente anunciado em grande escala e distribuído nacionalmente, rompendo com vários tabus referentes à higiene íntima feminina ao dar-lhes um produto medicamente aprovado em vez de métodos rudimentares feitos em casa.