Artes/cultura
10/07/2021 às 07:00•2 min de leitura
De acordo com o médico grego Cláudio Galeno, filósofo e autor de Methodus Medendi, os sintomas comuns da peste antonina eram diarreia, vômito, sede, garganta inchada, tosse seca, febre intensa e erupções cutâneas vermelhas e pretas. No entanto, ele observou que as fezes eram enegrecidas, parecendo podres, e apresentavam sangramento gastrointestinal. Além disso, a tosse seca era acompanhada de um odor pútrido.
Desse modo, foi observado que os infectados sofriam com a doença por cerca de 2 semanas, mas nem todos os que contraíram morreram, com muitos desenvolvendo imunidade contra novos surtos. A enfermidade, também chamada de "peste de galeno", surgiu na China em 166 d.C. e "viajou" por meio de navios mercantes com destino a Roma, atingindo com muita força o império de Marco Aurélio Antonino antes de se espalhar pelo Mediterrâneo.
(Fonte: World History/Reprodução)
É provável que os militares romanos entraram em contato com a peste durante o cerco de Selêucia (uma importante cidade às margens do rio Tigre), e as tropas que voltaram das guerras que aconteciam no leste espalharam a doença para o norte, a Gália e entre os soldados ao longo do rio Reno.
Devido à primeira "onda" da doença, que durou até 180 d.C., surgiram várias lendas sobre a origem da peste antonina. Uma vez que abalou os romanos definitivamente, uma delas sugeria que o general romano Lúcio Vero teria aberto uma tumba em Selêucia durante um saque na cidade, liberando a doença. A epidemia então seria uma punição dos deuses pelos romanos terem violado o juramento divino de não roubar a região.
(Fonte: Active News/Reprodução)
As demais histórias envolvem templos babilônicos com pragas milenares e sacrilégios feitos em santuários de deuses, até atribuindo a culpa aos cristãos. Como é de se esperar, nenhuma delas eram reais.
No entanto, o que de fato foi real era a sua letalidade. Apesar de muitas discussões envolvendo os efeitos e as consequências da epidemia no Império Romano, na época o historiador Dio Cassius estimou que cerca de 2 mil pessoas morriam por dia em Roma no auge do surto.
(Fonte: Blog for Arizona/Reprodução)
Na segunda "onda", estima-se que a taxa de mortalidade alcançou mais de 5 mil por dia. Ao todo, foi sugerido que um quarto de toda a população morreu, representando de 60 a 70 milhões em todo o império.
Assim, foi reduzido o número de contribuintes fiscais, soldados nos batalhões, candidatos a cargos públicos e fazendeiros, além de destruir também todo o setor agrícola. Tudo isso aconteceu bem na época em que as despesas aumentaram para manter as forças militares necessárias à segurança do império contra as invasões bárbaras.
Em seu livro Escassez de Mão de Obra e a Queda do Império Romano, o pesquisador Arthur E. R. Boak afirmou que a peste antonina contribuiu para o fim do Império Romano, diferente do que disse o historiador Edward Gibbon em A História do Declínio e Queda do Império Romano.
(Fonte: Short History/Reprodução)
Boak argumentou que, a partir do momento que os militares tiveram de alistar mais camponeses e funcionários locais em suas tropas, isso diminuiu drasticamente a produção de alimentos e a falta de suporte nas questões administrativas das vilas e cidades, enfraquecendo o império como um todo.
A peste acabou só em 190 d.C. e, analisando as descrições de causas e sintomas da doença feitas por Galeno, alguns cientistas modernos chegaram à conclusão de que a peste antonina poderia ser a varíola, que foi responsável pela morte de 300 milhões de pessoas no mundo todo durante o século XX.