Artes/cultura
17/09/2021 às 04:00•2 min de leitura
O cerrado brasileiro, considerado o berço das águas brasileiro, pode estar prestes a ter sua atuação comprometida devido à rápida destruição do bioma, visto que suas raízes profundas vêm sendo afetadas desde a década de 1970 com a expansão da pecuária e de grandes plantações de grãos e algodão. O que isso pode causar para os habitantes de todas as regiões do Brasil?
Com uma área de 2 milhões de km² que cobre 10 estados brasileiros, o cerrado corresponde a um dos biomas mais importantes para a manutenção hidrológica no Brasil e, apesar de apresentar clima semiárido e ambiente com períodos de deficiência hídrica, suas raízes bastante ramificadas atuam como esponja, armazenando água em períodos de chuva e direcionando o líquido não absorvido para lençóis freáticos, principais vertentes de aquíferos.
Agora, uma nova dinâmica regional instaurada desde a ocupação humana no território vem comprometendo o trabalho da vegetação e sua própria estrutura. Assim, as plantas que desenvolviam cerca de um terço de sua extensão para o subsolo surgem com raízes mais curtas, o que as impede de transportar a água para o fundo. Além disso, a nudez em algumas porções do solo faz a água evaporar mesmo antes de penetrar na superfície.
(Fonte: O Eco / Reprodução)
Em 2017, segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), cerca de 872 municípios, sendo a grande maioria no Nordeste, foram declarados em situação de emergência devido à estiagem, ou seja, um período prolongado de baixa pluviosidade, que impactou na perda de afluentes e no baixo nível de água em reservatórios. Enquanto isso, São Paulo, que tem rios abastecidos pelo aquífero Guarani, corre o risco de entrar em períodos de racionamento.
O território do cerrado, que ocupa aproximadamente um quarto da extensão do nosso país, encontra-se em situação delicada e indica que muitos dos esforços humanos podem não funcionar para recuperar rapidamente as propriedades do bioma. Boa parte dos problemas foi causada pela ausência de espécies animais importantes , como abelha, lobo-guará, tamanduá-bandeira e cachorro-do-mato-vinagre, e também de plantas com funções ecológicas relevantes, como os buritis, que demoram séculos para atingir a maturidade.
(Fonte: O Eco / Reprodução)
Outra questão curiosa é a importância dos incêndios naturais na região, já que diversas sementes precisam de fogo para crescer (pois necessitam de um choque térmico para que ocorra a quebra de sua dormência vegetativa) e animais regionais estabelecem ninhos em busca de forragem nova após o período das chamas.
Como o bioma consiste em apresentar um rápido poder de recuperação, as queimadas causadas por descargas elétricas, combustão espontânea, atrito entre rochas e até atrito do pelo de alguns animais com a mata seca surgem como renovadores ambientais.
Apesar de ser quase impossível reverter o estrago, as práticas de preservação da biodiversidade continuam sendo relevantes para evitar maiores danos, especialmente nas áreas de recargas de aquíferos. Porém, enquanto isso, projetos de expansão de negócios de grãos e fibras seguem como principais ameaças e assim é possível que os recursos restantes no bioma rapidamente se esgotem.