Artes/cultura
08/11/2021 às 13:00•6 min de leitura
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O principal assunto do começo de outubro foi a queda do Facebook — que levou junto outros produtos da empresa de Mark Zuckerberg, como o WhatsApp, o Instagram e funções de login em diversos outros apps. Muita gente ficou desesperada e sem saber como se comunicar enquanto contava os segundos para tudo voltar ao normal. A gente já vai falar sobre isso.
Claro que muitos de nós simplesmente buscamos outros meios de comunicação, comentamos a situação no Twitter (veja os melhores memes em nosso parceiro, o TecMundo) e tentamos seguir a vida. Afinal, Facebook, WhatsApp e Instagram estavam fora do ar, porém o resto da internet estava aí para encontrarmos alternativas — mesmo que todo o império de Mark Zuckerberg sumisse do mapa para nunca mais voltar, provavelmente a gente conseguiria se acostumar dentro de alguns dias.
Aí que está a questão: se um colapso do Facebook, que é "apenas uma empresa", já assustou tanta gente, o que aconteceria se toda a internet simplesmente parasse de funcionar? Imagine um dia em que tentamos abrir o WhatsApp, mas ele não funciona; depois, o Telegram, e este também não; e, assim, toda a internet simplesmente "falece e descansa em paz".
O Mega Curioso fez uma baita pesquisa em todos os outros artigos que já propuseram essa pergunta e conversou com alguns especialistas para entender esse cenário hipotético. A conclusão disso, em resumo, seria: o caos. A queda do Facebook "é café pequeno!".
Perto de um hipotético colapso da internet, a queda do Facebook na segunda-feira é fichinha. (Imagem: Reprodução)
"Quando um colapso da internet global acontece, interromper as comunicações digitais seria apenas uma pequena parte do problema", afirmou Francesca Musiani, pesquisadora do Instituto de Ciências da Comunicação da França (ISCC-CNRS), para o portal Gizmodo, ou seja, você não conseguir mandar vídeos de gatinhos no WhatsApp seria o menor dos problemas.
Dentro desse suposto contexto, vamos começar pelo aspecto das comunicações — que, afinal de contas, seria o primeiro que sentiríamos. Se você correu para o Telegram, Twitter ou Snapchat para falar com amigos que moram longe quando o WhatsApp caiu, essa alternativa não seria possível se ocorresse um colapso na internet, é claro. Contudo, o SMS também poderia parar de funcionar e até as torres de celular — isso porque a infraestrutura das operadoras depende da internet para existir.
Sem internet, seu celular serviria apenas como calculadora, videogame e poucas outras funções (Imagem: Pexels)
Basicamente, o aparelhinho que você tem aí e talvez esteja usando para ler esse post no Mega viraria apenas uma calculadora bem avançada; talvez um Game Boy se você tiver jogos instalados que funcionem offline.
Talvez os telefones fixos continuassem funcionando por um tempo, para quem ainda os têm em casa, mas as linhas provavelmente ficariam congestionadas rapidamente. Tentaríamos ver as notícias sobre o problema na TV, porém só seria possível fazer isso se tivesse uma antena daquelas antigas, já que os serviços de TV por assinatura também dependem da internet para sua infraestrutura.
Na real, é provável que mesmo os jornalistas de televisão tivessem dificuldade de transmitir alguma notícia, já que a maioria das redações utiliza a internet e satélites para receber as informações que vêm de fora. Isso demonstra que, além das suas comunicações pessoais, o seu trabalho também seria severamente afetado, portanto: nada de home office e de conversar com os colegas por algum sistema. O máximo que você conseguiria fazer no seu computador é usar o Word ou Excel — e teria que passar os arquivos para colegas por um pendrive.
Se você ficou passando mal durante o colapso do WhatsApp e do Instagram, abrindo os apps para ver se eles já tinham retornado, imagine só não conseguir fazer nada na internet! Deu até uma palpitação, né? Muito bem: esse pode ser um sintoma de nomofobia, segundo o psicólogo e neurocientista Fabiano de Abreu, que é colunista do Mega Curioso.
Ele conta que pessoas que usam as redes sociais para trabalhar até se sentiriam aliviadas com o colapso, aproveitando o tempo livre para fazer outras coisas, mas muita gente ficou ansiosa: checou o celular de tempos em tempos, buscou alternativas com pressa e até sentiu alteração no humor. Se a dependência da internet é mais séria, podem surgir até sintomas físicos, como suor excessivo e náuseas.
Isso acontece porque cada novo like ou mensagem recebida libera dopamina, que nos deixa "felizes", mas também ansiosos por mais estímulos. Se a internet parasse de funcionar e esses estímulos sumissem, muita gente começaria a passar mal de verdade. Não seria exagero dizer que consultórios de psicólogos e hospitais teriam uma procura bem maior.
"O colapso da internet foi o motivo do meu colapso, doutor." (Imagem: Unsplash)
Como dissemos, a comunicação seria o menor dos problemas: tudo começaria a ficar realmente sério quando a gente fosse contabilizar os prejuízos financeiros de um colapso da internet. Com o apagão de segunda-feira, 4 de outubro, que durou 6 horas, Zuckerberg e o Facebook perderam US$ 38 bilhões — o que já é uma grana e tanto, né? É só pensar que a empresa simplesmente se tornaria inútil em um mundo sem internet. Além dela, a Google, a Amazon e 99% das startups que você conhece não teriam mais negócios para fazer, pois todos trabalham na internet.
Porém, o colapso na economia iria muito além dos negócios digitais. Você talvez nem pudesse fazer compras no supermercado, porque o sistema do caixa é online. Aquele mercadinho onde o próprio dono soma os preços de cabeça ficaria vazio de produtos em um piscar de olhos, mas isso se você tiver dinheiro de papel para pagar as contas, né? Porque cartão de crédito, Pix, Pic Pay e qualquer outro meio de pagamento digital ficaria fora do ar se a internet parasse de funcionar.
Se sua carteira vive vazia, você teria muitos problemas em um hipotético colapso da internet. (Imagem: Freepik)
Dependendo da hora que isso acontecesse, as pessoas correriam para os bancos para fazer saques. Esse setor é um que sofreria muito, já que, atualmente, a maioria das operações financeiras é digital. Com pessoas sem dinheiro e, dentro de pouco tempo, sem comida, a desordem tomaria conta das cidades — o que é assunto para o próximo item...
Voltando à economia, o seu dinheiro não iria necessariamente "sumir" dos bancos, já que eles têm servidores privados e redes locais, mas dentro de algum tempo eles voltariam a operar como nos anos 1980. Entretanto, muita gente perderia seus empregos, não somente em empresas de tecnologia, mas no mundo todo e em todos os setores.
Isso porque mesmo setores mais tradicionais — como a indústria siderúrgica ou a agricultura, para citar apenas alguns — estão em uma economia globalizada, com clientes em várias partes do mundo. Portanto, dependem da internet para negociar e receber pagamentos. Claro que, como com os bancos, outras formas de fazer negócios surgiriam com o tempo se a internet parasse de funcionar, mas, a curto prazo, a crise econômica seria devastadora.
Muita gente acharia que a internet é só uma ferramenta de comunicação e, quando a notícia do colapso se espalhasse, pensaria que ficar sem WhatsApp não mudaria nada em sua vida, mas conforme mais pessoas percebessem que ficar sem internet também significaria ficar sem seu trabalho, bancos e até comidas ou remédios, o desespero tomaria conta. Na verdade, se a internet parasse funcionar, ficaríamos até sem os serviços mais básicos.
A rede de energia elétrica usa a internet para balancear a distribuição. Então, seria questão de tempo para que o fornecimento ficasse comprometido e alguns lugares começassem a ter apagões. Aí, tudo que depende da eletricidade também pararia de funcionar: distribuição de água, gasolina e gás natural, por exemplo. Sem combustível, as entregas de comida, remédios e outros itens para os comércios parariam. Então, ainda que todo mundo conseguisse pagar no dinheiro, não haveria o que comprar se o colapso da internet durasse 1 mês ou mais.
Sem internet, pode acabar a energia e outros serviços básicos. (Imagem: Wikimedia Commons)
Em meio a tanto caos, os líderes mundiais teriam que se posicionar de forma veemente para diminuir a catástrofe; além disso, todos estariam procurando culpados. É possível que trocas de acusações surgissem e algum conflito estourasse. Sistemas do governo e Forças Armadas até poderiam continuar funcionando, já que eles costumam ter redes internas, separadas da internet. Pelo menos enquanto ainda houvesse energia ou combustível.
Também haveria grande cobrança para criar novas soluções que permitissem "voltar ao normal". Em países desenvolvidos, acredita-se que a sociedade poderia ser retomada em cerca de 1 ano, com a reconstrução de uma rede essencial. Contudo, outros países pobres voltariam à agricultura de subsistência. A BBC estima que, dentro de 1 ano, cerca de 1 bilhão de pessoas poderiam morrer de fome, frio ou em meio ao caos social.
"Sem a internet, a sociedade como a gente conhece simplesmente não pode funcionar", afirmou o professor John D. Villasenor, da Universidade da California em Los Angeles.
"Eita, Joe... Ainda bem que você é o presidente agora!", disse Obama. (Imagem: Wikimedia Commons)
Agora que nós já deixamos você, caro leitor, desesperado em saber o que aconteceria se a internet parasse de funcionar, vem a boa notícia: é muito difícil isso acontecer.
Isso porque não há um botão que liga e desliga a internet inteira, como existe no seu modem. Não é uma questão de alguém tropeçar em um fio e, "ops!", acabou a internet do mundo todo. Segundo Renan Hamann, Head de Brand Publishing da NZN e ex-editor-chefe do TecMundo, um colapso da internet global dependeria de uma "tempestade perfeita".
Isso porque a internet não é uma rede só, mas um sistema com infinitas redes conectadas: se uma parte para de funcionar, os dados vão por outro caminho. É a chamada redundância, e é algo que acontece o tempo todo, na verdade.
"O 'apocalipse' mesmo só aconteceria com uma ação coordenada de terrorismo ou ciberterrorismo (e aqui falando de uma maneira bem simplista). Isso porque, para isso, seria necessário que houvesse uma desativação generalizada de cabos submarinos ou grandes centrais de DNS e backbones, por exemplo. Ou, então, uma intervenção global em servidores de roteamento e distribuidores de conteúdo", explicou Hamann.
"Meu plano é acabar com a internet e dominar o mundo, Sr. Bond." (Imagem: Cinema em Série/Reprodução)
Em resumo, essa história de colapso da internet global só aconteceria com um plano maligno digno de vilão de 007. Fazendo outra analogia cinematográfica para terminar, Hamann explica que, mesmo que o arqui-inimigo de James Bond conseguisse destruir a internet, a gente não ficaria no mundo de Mad Max. "Boa parte das comunicações mais importantes dos Estados é feita via satélite. Isso permite uma estabilidade de comunicação militar ou governamental de alto escalão sem grandes problemas", ele disse.