Pulga-do-mar: o parasita que devora a língua de peixes ainda vivos

01/11/2021 às 13:002 min de leitura

A natureza é palco para todo tipo de mistério fascinante e, enquanto conhecemos criaturas que beiram à beleza e detalhes comportamentais impressionantes, outros seres chamam a atenção por deter propriedades assustadoras, como se tivessem vindo de outro planeta, um lugar hostil. E um desses animais bizarros é a parasitária pulga-do-mar, um animal com poucos milímetros de extensão que devora a língua do hospedeiro e substitui o órgão em seguida.

Bastante comum desde o sul do Golfo da Califórnia até o norte do Golfo de Guayaquil (Equador), a pulga-do-mar (Cymothoa exigua) é um pequeno crustáceo que pode ocupar águas de até 60 metros de profundidade. A espécie se destaca por apresentar indivíduos praticamente invisíveis a olho nu, já que as fêmeas podem crescer até 2,5 centímetros de comprimento e os machos até metade disso — cerca de 1,5 centímetro, considerando o máximo alcançado por indivíduos adultos.

Mas nesse caso tamanho não é documento. As dimensões do isópode — crustáceo — permitem que o animal invada duas ordens e quatro famílias de peixes para comer totalmente a língua deles e depois, então, ocupar o lugar do órgão, fixando-se na boca dos animais por meio de ganchos semelhantes a patas (pereópodes). O processo se dá por meio de um mecanismo de absorção, no qual a pequena criatura suga o sangue da língua até atrofiá-la para abrir espaço suficiente na região.

Essa particularidade faz a pulga-do-mar ser um dos animais mais eficientes do planeta em relação à caça por alimentos, já que ela passa a ingerir os nutrientes oriundos das refeições e, em casos mais evoluídos, come o próprio peixe, causando a desnutrição dele. Porém, essa adaptação só é possível para as fêmeas da espécie, já que os machos tendem a aderir às brânquias — ambos ainda em suas fases juvenis.

A invasão

Após invadir o corpo do peixe através das guelras, a Cymothoa exigua torna-se uma pseudolíngua para o animal, apropriando-se de suas principais funções durante o restante da vida do peixe.

Relatos de biólogos indicam que a maioria dos peixes não morre após ser infectada, e muitos chegam até mesmo a prosperar com a relação interespecífica, realizando suas atividades cotidianas como se não se dessem conta do invasor.

O mais assustador do parasita certamente é o ciclo reprodutivo, já que o acasalamento é permitido e é um hábito comum para as novas línguas dos peixes. Caso haja algum macho instalado nas brânquias, ele é atraído pela fêmea e realiza atividades sexuais na própria boca do hospedeiro, dando à luz a uma ninhada de piolhos machos que dão continuidade aos serviços alimentares da fêmea.

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