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10/11/2021 às 13:00•2 min de leitura
Com o extermínio de mais de 1,5 milhão de baleias entre 1910 e 1970, cerca de 90% da população total que vivia no Oceano Antártico na época, os impactos causados pelo predatismo humano vêm se tornando cada vez mais evidentes, à medida que krill — coletivo de invertebrados semelhantes a camarões — desaparece e evita o desenvolvimento de espécies marinhas que têm, no coletivo dos pequenos crustáceos, sua principal fonte de alimentos.
A pesquisa, publicada na revista Nature, foi realizada de acordo com observações no comportamento de baleias-azuis, de-barbatana, jubarte e de-minke, após a instalação de dispositivos de marcação de alta tecnologia em indivíduos. Os acessórios, que se prendem de 5 a 20 horas no organismo do animal e rastreiam dados de movimentos, aceleração e som, foram capazes de medir o comprimento do mamífero e de estimar o volume de seu gole, de forma a ajudar no entendimento sobre quanto de krill é consumido por um único espécime.
Através de uma colaboração entre a pesquisa e o drone subaquático chamado ecobatímetro, que usa ondas sonoras em várias frequências diferentes para medir a quantidade de presas ao redor, cientistas detectaram que as espécies de baleias consomem, atualmente, mais que o dobro de krill. Esses números, se comparados a estimativas anteriores, indicam que os grupos estão precisando comer mais para repor a mesma energia que produziam com uma quantidade menor de peixes.
(Fonte: PEW/Reprodução)
Porém, para isso ocorrer respeitando o equilíbrio natural, a abundância de krill nos oceanos deveria ser próxima à existente no início do século XX, cerca de cinco vezes maior do que é atualmente. Esse déficit, então, evidenciaria um declínio causado pela relação predatória entre os animais, indicando um papel muito mais complexo para as baleias e fundamentos determinantes para o desenvolvimento saudável do ambiente oceânico.
A redução da presença de krill nos oceanos pode ser um paradoxo, já que o coletivo dos invertebrados é uma das principais fontes de alimentação para as baleias, mas tudo indica que seu desaparecimento tem relação direta com a má fertilização do solo marítimo e com a perda do volume de cocô produzido. Isso porque o fitoplâncton, fonte vital primária para pequenos peixes e crustáceos, não encontra as condições propícias para sobreviver e proliferar, vivendo de forma precária em um solo infértil ou pouco nutritivo.
“Sem o fitoplâncton, você nunca obterá todos os animais e tudo que tanto nos interessa”, diz Max Czapanskiy, aluno de pós-graduação do Hopkins Marine Station e coautor do artigo. “Quando as baleias eram muito numerosas, elas desempenhavam um papel incrível no fortalecimento do ecossistema. Pense nessas grandes baleias como usinas móveis de processamento de krill. Cada baleia-comum ou baleia-azul tem o tamanho de um avião comercial. Então, na primeira metade do século XX, antes da caça às baleias, havia um milhão dessas fábricas de processamento de krill do tamanho de um 737 se movendo ao redor do Oceano Antártico comendo, fazendo cocô e fertilizando.”
“Só essa ideia de que se você remover grandes baleias, há realmente menos produtividade e potencialmente menos krill e peixes, é incrível”, diz Jeremy Goldbogen, líder do projeto. “É um lembrete de que esses ecossistemas são complexos e altamente intrincados, e que precisamos fazer mais para entendê-los totalmente.”