Artes/cultura
21/11/2021 às 10:00•2 min de leitura
Descoberto originalmente em 2001 durante expedições no campo hidrotermal Kairei, no oceano Índico, o caracol-do-vulcão, também conhecido como “pangolin-do-mar”, é uma rara espécie de molusco que habita regiões consideradas por cientistas como "origem da vida", por apresentarem condições de existência quase impossíveis. O animal se destaca por ser o único ser vivo que incorpora ferro em sua concha; é um verdadeiro gladiador da natureza e aguenta temperaturas de até 400 ºC.
(Fonte: PLOS One/Reprodução)
Habitante das profundezas entre 2,4 mil e 2, 9 mil metros, o caracol-do-vulcão (Chrysomallon squamiferum) é um espécime peculiar que retira sulfeto de ferro de seu ambiente para desenvolver uma “armadura” que reveste e protege completamente seu interior macio. Além disso, a criatura se sustenta de bactérias, que são processadas em uma grande glândula que depois absorve substâncias químicas como a pirita (também conhecida como ouro do tolo) e gregita, ganhando diferentes cores e formatos dependendo da região em que vive.
Essa propriedade é possível graças à combinação de íons de ferro e enxofre presente em locais vulcânicos, permitindo que seu esqueleto sobreviva a altas temperaturas, alta pressão, forte acidez e baixo oxigênio nos ecossistemas, surpreendentemente adquirindo particularidades magnéticas próprias dos materiais que os compõem.
Em maio de 2020, uma equipe de cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST) decodificou o genoma do caracol-do-vulcão pela primeira vez e anunciou que 25 “fatores de transcrição” colaboram para a produção de minerais de ferro. "Descobrimos que um gene, denominado MTP (proteína de tolerância ao metal) 9, mostrou um aumento de 27 vezes na população com mineralização de sulfeto de ferro em comparação com aquela sem”, relata o estudo. "Essa proteína foi sugerida para aumentar a tolerância aos íons metálicos".
(Fonte: Wikispecies/Reprodução)
Segundo os estudiosos, os moluscos da "origem da vida" possuem os mesmos genes presentes em lulas e ostras e não apenas impulsionam os estudos sobre a criação da vida em fontes hidrotermais ou sobre a evolução do reino, mas também se mostram uma potencial fonte de desenvolvimento para o setor industrial. Afinal, a composição do animal poderia fornecer insights para a fabricação de armaduras e equipamentos mais resistentes, bem como para remédios em potencial no campo da medicina.
Atualmente, o caracol-do-vulcão integra a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como animal "em perigo", sugerindo ameaça de extinção. Isso foi formalizado em 2019 devido à alta procura de pontos de mineração em alto-mar, visto que os recursos minerais de sulfeto polimetálico — que se formam em abundância perto dos caracóis que vivem em fontes hidrotermais — são valorizados por sua grande concentração de metais preciosos. Desde então, a espécie está em declínio acentuado nos campos Kairei e Solitaire, distribuídos ao longo da Cadeia Central do Índico.