Artes/cultura
27/11/2021 às 10:00•2 min de leitura
O Arquipélago Fernando de Noronha, localizado a 350 km da costa do nordeste brasileiro, tem sofrido com uma espécie invasora: o teiú. Esses répteis, além de serem uma verdadeira ameaça para as espécies nativas que vivem nas ilhas, também causam grandes estragos no ecossistema e podem acarretar problemas de saúde para os seres humanos.
Além disso, essas criaturas se reproduzem no lugar sem qualquer tipo de controle. Isso significa que sua população pode se expandir caoticamente em um curto período. Pensando nisso, entenda de onde surgiram essas criaturas, como elas se tornaram um problema para a região e o que pode ser feito para o futuro.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em sua tese de doutorado, o analista ambiental Carlos Roberto Abrahão, da Universidade de São Paulo (USP), fez um levantamento de dados sobre a população de teiús que vivem nas ilhas do arquipélago e propôs algumas estratégias de manejo do animal para solucionar os problemas que a região vem enfrentando.
Segundo o estudo, os primeiros registros da presença de um teiú em Fernando de Noronha datam para o início da década de 1950. Nessa época, essas criaturas foram levadas pelos homens até o local para fazer o controle de ratos trazidos pelos europeus no passado. Porém, o “tiro acabou saindo pela culatra”.
Atualmente, a população estimada de teiús é de 7 a 12 mil lagartos adultos somente na ilha principal. Pesando até 15 kg, o réptil é considerado o maior lagarto da América do Sul e pode chegar a 2 metros de comprimento.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Por serem animais bastante ágeis, os teiús se tornaram um predador natural para algumas espécies ameaçadas de extinção no arquipélago ou exclusivas da região, como a tartaruga-verde (Chelonia midas), o lagarto-de-noronha (Trachylepis atlantica), a anfisbena-de-noronha (Amphisbaena ridleyi) e o caranguejo-amarelo (Johngarthia lagostoma).
Em conjunto, a população de ratos e gatos também é um verdadeiro problema nesse cenário. Acredita-se que algumas populações de aves tiveram uma saída forçada da ilha principal devido ao surgimento descontrolado de eventuais predadores. E como se não bastasse, cerca de 50% dos teiús de Fernando de Noronha são portadores da bactéria Salmonella enterica, causadora da salmonela.
A possibilidade de contaminação pelas fezes do réptil ou pelo consumo direto da sua carne, vista como uma “iguaria” no arquipélago, resulta em uma ameaça séria ao turismo da região, dado que a contaminação provoca diarreia grave — principalmente para os visitantes da ilha principal que não desenvolveram uma resistência à bactéria.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em seu trabalho, Abrahão sugere que um plano de ação seja traçado com a população local para tentar conter os riscos oferecidos pelos teiús ao arquipélago. Como medida, o pesquisador acredita que a utilização de armadilhas simples e baratas podem ajudar a coletar os lagartos espalhados pelo lugar. Como esse é um problema que só pode ser resolvido a longo prazo, estratégias efetivas precisam ser bem consideradas.
No continente, os teiús costumam ser predados por grandes mamíferos. Porém, a introdução de novas espécies em Fernando de Noronha para solucionar essa situação não é nem um pouco recomendada, visto que são raríssimos os casos em que isso realmente funciona — normalmente essa atitude gera ainda mais problemas.