Jardinagem atômica: criando superplantas usando radiação em 1950

27/12/2021 às 06:302 min de leitura

Em 8 de dezembro de 1953, o então presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, apresentou-se na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, com o discurso Atoms for Peace, ironicamente falando sobre os perigos da linguagem do novo tempo: a guerra atômica (isso só 8 anos após o país iniciar essa era ao bombardear Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial).

Em seguida, foi lançado o programa Atoms For Peace, como parte de uma campanha puramente midiática chamada Operação Franqueza, que tentava alertar e também esperançar um futuro nuclear que poderia beneficiar a todos com sua magnitude de informações e tecnologia, bem como destruí-los em mais uma guerra.

"Caminhando na corda bamba", que foi a Guerra Fria, essa campanha de Eisenhower foi um marco para o enfoque internacional no uso pacífico da energia atômica.

Jardins irradiados

(Fonte: Genetic Literacy/Reprodução)(Fonte: Genetic Literacy/Reprodução)

Na década de 1950, o que se chamou de"jardins atômicos" foi só uma das partes dessa iniciativa governamental para tentar afastar o horror que era a energia nuclear,e mostrar à sociedade americana que ela poderia ser uma aliada também.

Esses jardins foram estabelecidos não só em território americano, como também na Europa, na Índia, no Japão e em algumas partes da então União Soviética, com o objetivo de testar os efeitos da radiação na vida das plantas usando isótopos de cobalto como fonte de radiação. A pesquisa visou induzir mutações benéficas que pudessem dar às plantas características úteis, como maior adaptação a condições climáticas adversas ou uma taxa de crescimento mais rápida.

Em 1959, o ativista atômico britânico Muriel Howorth fundou a Sociedade de Jardinagem Atômica, visando trazer a energia atômica e experimentação para a vida dos civis de maneira massiva. A princípio, para o projeto funcionar, os membros recebiam sementes irradiadas, plantavam-nas em seus jardins e enviavam relatórios para a sociedade detalhando os resultados.

Entrando para a moda

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Os "jardins gama", como também foram chamados, geralmente continham cerca de 5 acres de tamanho e eram organizados tipicamente em círculo, com diferentes níveis de radiação atingindo as plantas a partir do centro, recebendo doses da energia por cerca de 20 horas, após a qual os cientistas protegidos entravam no local para avaliar os resultados.

Foi notado que as plantas mais próximas da fonte de radiação normalmente morriam, enquanto as mais distantes apresentavam anormalidades significativas. Na periferia do jardim, estavam as "plantas de interesse", com uma gama de mutações maior do que o normal, mas de maneira benéfica, caracterizadas como "plantas normais".

As sementes irradiadas acabaram se tornando uma "febre" para a sociedade, que vivia a Era Atômica dos Estados Unidos com entusiasmo. As sementes até acabaram sendo comercializadas para donas de casa conduzirem os próprios experimentos de jardinagem atômica em casa.

(Fonte: Cracked/Reprodução)(Fonte: Cracked/Reprodução)

Em meados de 1960, o frenesi entrou em declínio devido a uma combinação de mudanças no clima político em relação à energia atômica e uma falha da Sociedade de Jardinagem Atômica em produzir resultados relevantes.

No entanto, muitos jardins gama continuaram em grande escala, desenvolvendo uma série de plantas comerciais e liberadas por laboratórios e empresas privadas, além de que a pesquisa permaneceu por meio de uma operação em conjunto com a Agência Internacional de Energia Atômica e Organização para Agricultura e Alimentos da ONU.

Atualmente, é o Instituto de Reprodução de Radiação no Japão que tem a marca de maior jardim gama no mundo. Com um complexo de cerca de 90 metros de largura e paredes de até 7 metros de altura para conter os níveis de radiação, o local visa criar um conjunto de resistência a fungos e o aprimoramento da cor das frutas.

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