Artes/cultura
20/01/2022 às 08:00•3 min de leitura
Muita gente treme, torce o nariz e até sente vontade de vomitar ao ver uma barata. Tamanha aversão a esse pequeno inseto até nos faz pensar que são os mais temidos da natureza pelos humanos. No entanto, você sabia que existe muita informação que você aprendeu sobre as baratas que é falsa?
Um dos mais populares mitos sobre as baratas é que elas supostamente poderiam resistir a um apocalipse nuclear. No entanto, isso não é verdade. Mesmo considerando que elas sejam cerca de cinco vezes mais resistentes à radiação do que os seres humanos, elas ainda estão nas categorias mais inferiores entre os insetos mais tolerantes a isso. Por exemplo, algumas espécies de formigas e as moscas de fruta podem sobreviver a uma dose radioativa até 10 vezes maior do que as baratas.
(Fonte: Beeki/ Pixabay/ Reprodução)
Mas isso não tira nem um pouco o crédito dado a esses seres. Veja bem, as baratas modernas já existiam durante o "reinado" dos grandes dinossauros. Aliás, um ancestral comum desses insetos já vivia no supercontinente Pangeia há cerca de 175 milhões de anos. Na verdade, é a capacidade de adaptação das baratas que permite a elas viverem onde outros animais foram expulsos ou até morreram.
Pode acreditar: algumas espécies de baratas são incríveis, especialmente em termos de cores brilhantes. Além disso, existem aproximadamente 4,5 mil espécies, logo, variações não faltam. A propósito, o país onde é possível observar a maioria delas é na Austrália, onde 500 já foram registradas como nativas de lá.
A barata diurna de Mitchell (Polyzosteria mitchelli). (Fonte: Flickr/Jean and Fred/ Reprodução)
O comportamento das baratas também é algo invejável. Existem espécies que são capazes de manter cuidados parentais, o que inclui cuidar dos filhotes até que completem 9 meses.
Antes de matar uma barata é melhor pensar duas vezes se você se preocupa com o meio ambiente. A maioria das espécies está por aí trabalhando duro, ajudando a quebrar e decompor folhas podres, madeira e matéria orgânica, ou seja, trabalham de graça produzindo fertilizantes e colocando nutrientes no solo.
Polyzosteria mitchelli, outra bela espécie de barata australiana. (Fonte: Alchetrin/ Reprodução)
Ah, e isso não é só no mato. Até aquelas espécies consideradas como pragas nos grandes centros urbanos também ajudam na reciclagem de lixo e outros resíduos.
O desgosto, nojo ou pavor que muitas pessoas desenvolveram pelas baratas não surgiu do nada. Há elementos históricos e psicológicos por trás disso. Seja pela cultura, seja porque pragas e insetos algumas vezes são sinônimos de algo ruim. Por exemplo, podemos citar os egípcios que criaram feitiços ao deus Khnum para banir esses bichinhos; na Roma Antiga, Plínio, o Velho, tratou de descrever o quanto achava as baratas repugnantes.
Pulando para o século XIX, as próprias baratas resolveram participar ativamente da má fama: um punhado de espécies se tornaram responsáveis por pragas em várias partes do mundo.
(Fonte: Sheng Li/ NyTimes/ Reprodução)
Mas, para Brent Karner, ex-curador de Entomologia do Museu de História Natural de Los Angeles, não devemos nos preocupar tanto com as baratas. Afinal, entre as mais de 4 mil espécies catalogadas, apenas 5 realmente são consideradas pragas.
Além disso, o que já aprendemos sobre elas pode ajudar a diminuir a nossa aversão. Ao contrário de pulgas, carrapatos e mosquitos, as baratas não são vetores de doenças tão eficientes, já que não se alimentam diretamente de nosso sangue, fluidos ou de partes de nossa pele. E mesmo sabendo que elas podem transmitir tuberculose, lepra ou poliomielite, os casos recentes envolvem mais intoxicação causada por baratas. Mas ainda assim, é certamente algo menos preocupante que febre-amarela, dengue ou malária.
Talvez, uma das ações mais incríveis que poderíamos aprender com as baratas seria como sobreviver e se movimentar por longos trajetos e por tanto tempo sem partes do corpo e até com os intestinos para fora e sem nenhum tipo de ajuda, é claro.