Artes/cultura
08/02/2022 às 08:00•3 min de leitura
Quando falamos em fósseis, é sempre subentendido que seu estudo ajuda a desvendar os mistérios do passado. No entanto, os fósseis podem ser importantes não apenas para entender o passado da vida no planeta, mas também para vislumbrar o futuro da humanidade.
Em entrevista concedida ao Vox, o paleontólogo Thomas Halliday revelou que as extinções de eras passadas e as consequências das mudanças climáticas — vivenciadas em larga escala nos últimos anos — podem impactar na manutenção e sustentação dos seres vivos.
De acordo com Halliday, eventos ocorridos há milhões de anos, quando dinossauros e aves gigantes habitavam a Terra, apresentavam padrões geológicos que permitiam a sugestão de inferências climáticas e comportamentais. Assim, seria possível reconstruir ações, hábitos e características anatômicas de espécies, além de suas relações com o ambiente, para aproximar os conceitos à atual realidade.
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(Fonte: Fossil Museum/Reprodução)
Essas "viagens temporais", como o autor menciona, seriam de extrema importância para contar a história da vida, tendo em vista que grandes extinções — por ações humanas ou cataclismas de larga escala — tiveram impacto direto nos ecossistemas antigos, assim como ocorre atualmente.
Porém, diferentemente dos tempos passados, em que aquecimentos e resfriamentos estavam inclusos em um lento ciclo natural, os desgastes atuais estão em um ritmo mais veloz e podem indicar problemas em escalas trágicas para a natureza.
"No final do Permiano, há 250 milhões de anos, ocorreu o que ficou conhecido como a Grande Morte. É a pior extinção em massa que já aconteceu. Houve uma enorme emissão de coisas, como metano e outros gases de efeito estufa, por meio da atividade vulcânica", disse o paleontólogo. "Na Sibéria, 95% da vida foi exterminada por essa mudança radical no clima global. Existiram enormes problemas com a acidificação dos oceanos, com esses gases saindo para a atmosfera, perdendo oxigênio. E muitas dessas coisas são problemas que estamos vendo agora", ele falou.
Há pouco mais de 360 milhões de anos, espécies fotossintetizantes — como organismos unicelulares e, posteriormente, as árvores do Carbonífero — foram responsáveis por alterar a configuração da biosfera, produzindo oxigênio, absorvendo grandes quantidades de dióxido de carbono e transformando-se em carbono, que retornava para a Terra na forma de matéria orgânica.
(Fonte: Shutterstock)
Na atual crise climática, os protagonistas das transformações de cenário são os próprios humanos, dotados da capacidade de refletir sobre as ações e buscar alternativas mais apropriadas. Porém, o tempo vem se provando um inimigo da população mundial e, enquanto os efeitos dos gases-estufa preocupam por causa de uma ação brusca e repentina, grupos de ambientalistas e estudiosos se esforçam para "correr contra o tempo", na tentativa de contornar a situação antes de uma nova extinção.
"Se estamos falando de mudanças climáticas, os períodos importantes são os cinco maiores eventos de extinção em massa. O Ordoviciano é o único causado pelo resfriamento global, e acho que é um paralelo importante aqui. As pessoas têm uma suposição de que o calor é de alguma forma o que é ruim aqui, mas, na verdade, não é o calor em si, é a taxa de mudança", esclareceu Halliday.
Segundo o autor de Otherlands, compreender o que ocorreu com espécies desaparecidas e estudar de que forma os fenômenos climáticos impactaram nas comunidades pré-históricas é essencial para entender os padrões dos ciclos nas eras. Para isso, torna-se imprescindível analisar estruturas fósseis e entender quais pistas elas fornecem para a humanidade.
(Fonte: Alamy/Reprodução)
Estudos comprovam as relações entre artefatos documentais e a coleta de detalhes minuciosos sobre o meio ambiente, e Halliday reforça essa condição: “ver formas de vida antigas como se fossem visitantes comuns do nosso mundo, como animais trêmulos e fumegantes de carne e instinto, como vigas rangentes e folhas caindo”.
"Se passarmos por um grande período de transição, inaugurando uma nova era em que a vida é fundamentalmente diferente, então é menos provável que façamos parte dela. Devemos proteger o mundo que é nossa terra, nossa parte do tempo geológico", ele concluiu.