Experimento de Milgran mostrou o pior lado do ser humano

01/03/2022 às 09:302 min de leitura

De vez em quando, algumas notícias nos chocam devido ao alto grau de violência que relatam, como quando 10 militares deram 80 tiros em um pintor no Rio de Janeiro. O fato ocorreu em 2019 e chocou o país.

Será que em alguns momentos, as pessoas simplesmente perdem a capacidade de questionar o impacto dos seus atos? Será que é essa incapacidade que gera regimes tiranos, violência policial ou crimes violentos?

Há muitas décadas, cientistas têm tentado entender esse fenômeno — e um dos experimentos mais famosos segue sendo o experimento de Milgram.

Experimento de Milgram: o que foi e por que foi feito?

Em 1961, o ex-coronel do exército nazista Adolf Eichmann era julgado em Israel pelos seus crimes cometidos durante o holocausto. Ao contrário de muitos nazistas, Eichmann não pegou em armas. Seu papel foi muito mais técnico, quase burocrático. Ele era responsável por organizar a logística de transporte dos prisioneiros.

Durante o julgamento, ele argumentou que apenas seguia ordens e que não tinha como confrontar seus superiores. Mesmo com essa justificativa, ele foi condenado.

Contudo, suas palavras chamaram a atenção do psicólogo e pesquisador estadunidense Stanley Milgram. Milgram queria entender se pessoas comuns seriam capazes de realizar atos cruéis que lhes foram ordenadas ou se se rebelariam.

O experimento de Milgram

O experimento ocorreu da seguinte forma: diversos voluntários tinham que dar choques em uma pessoa sentada em uma cadeira. Os choques eram dados ao apertar um botão,  sempre que essa pessoa errava um teste de memória.

Quem apertava o botão imaginava que o objetivo do estudo era testar a memória daqueles indivíduos.

Quem recebia o choque (que era de mentirinha) sabia da verdade, assim como uma terceira pessoa que orientava esse indivíduo para que as reações fossem realistas.

Voluntário do estudo sendo preparado para "levar choques". (Fonte: Reprodução/Yale)Voluntário do estudo sendo preparado para "levar choques". (Fonte: Reprodução/Yale)

Os choques iam se tornando mais fortes gradativamente. O participante gritava e chorava de dor, em alguns momentos fingia desmaiar. O último estágio de choque tinha tensão de 450 volts. Quem apertava o botão era informado por uma mensagem que aquela voltagem poderia matar uma pessoa.

Os resultados do estudo de Milgram

Participante do estudo de Milgran. (Fonte: Reprodução/Yale)Participante do estudo de Milgran. (Fonte: Reprodução/Yale)

Surpreendentemente, a maioria das pessoas seguiu apertando os botões, mesmo vendo o sofrimento de quem recebia os choques. 65% dos participantes apertaram o botão de 450 volts. Todos apertaram o botão de 300 volts, voltagem também letal.

No entanto, quando a ordem para dar os choques não era dada presencialmente (dada por telefone), a taxa de obediência caía 20,5% e muitos participantes fingiam apertar o botão.

Quando o participante era obrigado a tocar na mão da vítima, empurrando-a em uma placa de choque, a adesão às ordens caía para 30%.

Contudo, quando essas pessoas tinham a oportunidade de ordenar que alguém desse os choques, ninguém se opunha à tortura.

A roupa de quem dava as ordens teve impacto sobre a obediência dos voluntários. Quando a pessoa não vestia o jaleco branco, a adesão à tortura caia para 20%, o que indica que uniformes que remetam à autoridade podem influenciar as ações das pessoas na hora de fazer atos cruéis.

Os resultados do estudo de Milgram chocaram a comunidade científica e são, até hoje, amplamente estudados nas faculdades de Psicologia em todo o mundo.

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