Artes/cultura
09/04/2022 às 11:00•2 min de leitura
O nome forte com sentido bíblico, praticamente armagedônico, não foi escolhido à toa, inclusive foi o objetivo da Força Aérea dos Estados Unidos. A iniciativa surgiu de indagações bizarras, como quando se perguntaram o que aconteceria se atingissem a Lua com uma bomba nuclear — justamente o tipo de pergunta dantesca que quase sempre colocou a potência à frente no campo de guerra.
E se fosse possível, sempre que necessário, enviar um grande objeto para o espaço, fazê-lo orbitar a Terra e jogá-lo de volta à superfície em uma velocidade que resultaria no impacto e poder de uma bomba nuclear, sem radiação, transformando o inimigo em uma imensa cratera?
Em plena Guerra Fria, em meados de 1950, em um dos períodos de maior temor da potência americana após a catástrofe provocada em Hiroshima e Nagasaki, essa ideia foi fomentada pelo especialista em armas espaciais Jerry Pournelle, enquanto trabalhava no ramo de operações da Boeing.
Seu sistema de armas apelidado "Thor", apesar de parecer meio insano, foi analisado com muita seriedade pela Força Aérea americana.
(Fonte: DS/Tasmanian Times/Reprodução)
Com o fim da Corrida Espacial e a ratificação do Tratado do Espaço Exterior, em 1967, o conceito do Projeto Thor começou a ser desenvolvido durante a Guerra da Coreia e do Vietnã, quando os americanos fizeram uso em larga escala dos chamados "bombardeamentos cinéticos" por meio da bomba Lazy Dog.
Os dispositivos eram projéteis cinéticos em forma de bomba convencional com cerca de 50 centímetros de diâmetro e 44 milímetros de comprimento, equipados com aletas (superfícies que se estendem de um objeto com a finalidade de aumentar sua troca térmica com o ambiente a partir de trocas de calor por convecção). Podendo atingir uma velocidade de 800 km/h, os projéteis penetravam até 22 centímetros de concreto após serem lançados a quase mil metros de um avião, causando o mesmo efeito que uma metralhadora disparada na vertical — um conceito similar ao dos projéteis flechette usados desde a Primeira Guerra Mundial.
A parte "boa" é que os bombardeamentos cinéticos não carregavam explosivos. O projétil apenas ganhava velocidade e energia, que seria gasta no impacto, após lançado. O conceito era o mesmo que atirar munições com as mãos em um alvo.
(Fonte: Kerbal Space Program Forum/Reprodução)
Contudo, em vez de pequenos projéteis, o Projeto Thor desenvolveria um grande projétil de 6 metros de comprimento, 30 centímetros de diâmetro, com feixe de hastes de tungstênio do tamanho de postes de telefone, que seria lançado em órbita para atingir uma velocidade até 10 vezes maior que a velocidade do som.
Essas "Varas de Deus", como foram nomeadas, penetrariam centenas de metros na terra, destruindo qualquer bunker em locais secretos subterrâneos. Além disso, o impacto de uma vara provocaria uma explosão equivalente à magnitude de uma arma nuclear, levando apenas 15 minutos para destruir seu alvo.
(Fonte: History/Reprodução)
Estima-se que o custo do empreendimento não sairia por menos que US$ 230 milhões por haste lançada ao espaço, o que era algo inimaginável para o período da Guerra Fria. Tempos depois, o governo de George Bush considerou revisitar as Varas de Deus, principalmente após os ataques de 11 de setembro.
As Varas de Deus foram consideradas imprevisíveis demais para serem colocadas em prática, além de caras. A arma era complicada em vários aspectos técnicos, como no aquecimento atmosférico quando reentrasse na órbita da Terra, podendo derreter componentes não tungstênio do dispositivo.
Ainda assim, as armas hipersônicas não foram descartadas como o "futuro da guerra global", e não há dúvidas que o Projeto Thor possa ser revisitado novamente, dessa vez de maneira mais decisiva.