Igbo-Ora: porque esta é a capital mundial dos gêmeos

24/04/2022 às 06:002 min de leitura

Uma cidade da Nigéria, localizada no sudoeste do país, tornou-se conhecida como a “capital mundial dos gêmeos”. Localizada a 80 quilômetros da capital Lagos, Igbo-Ora é uma comunidade pacata do estado de Oyó, conhecido por ser o lar de pessoas escravizadas trazidas à força para o Brasil — os iorubás, influenciadores de religiões de matriz africana em nosso país.

Igbo-Ora registra orgulhosamente a marca de 158 pares de gêmeos para cada mil habitantes nascidos vivos. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta lembrar que a Europa apresenta uma taxa de 16 gêmeos a cada mil nascimentos, enquanto os EUA exibem 33 gêmeos por mil nascidos.

Para a sociedade local, constituída em sua maioria por agricultores e comerciantes, o nascimento de gêmeos é considerado uma bênção dos deuses, e essas pessoas são reverenciadas e tratadas com carinho, amor e respeito. Alguns até acreditam que seres idênticos têm poderes divinos, tradição religiosa que, no Brasil, deu origem às comemorações de São Cosme e Damião.

(Fonte: World Twins Festival/Facebook/Divulgação)(Fonte: World Twins Festival/Facebook/Divulgação)

Por que nascem tantos gêmeos em Igbo-Ora?

Embora a alta incidência de nascimentos possa ser inicialmente atribuída a um fenômeno genético — que ocorre em outras cidades do mundo, como Kodinji, na Índia, e na brasileira Cândido Godói, no Rio Grande do Sul —, algumas pesquisas mais recentes sugerem que os nascimentos múltiplos podem estar ligados aos hábitos alimentares das mulheres de Igbo-Ora.

Na base da alimentação das grávidas nigerianas, é muito popular a sopa de ilasa (folha de quiabo) com inhame e amala (farinha de mandioca). O alimento, que deve ser preparado e consumido imediatamente, pode ser uma rica fonte de gonadotrofinas, substância responsável pelo aumento da produção de óvulos nos ovários.

Os produtos químicos encontrados nas cascas dos tubérculos (mandioca e inhame) foram detectados por pesquisadores do Hospital Universitário da Universidade de Lagos, e confirmados por um ginecologista contratado pela BBC. "Essas substâncias estão geralmente ligadas à liberação de mais de um óvulo, podendo levar a gestações gemelares", afirmou o profissional.

Vivendo em Igbo-Ora

(Fonte: Igbo-Ora/Facebook/Reprodução)(Fonte: Igbo-Ora/Facebook/Reprodução)

De acordo com o site local Pulse, caminhar pelas ruas da cidade africana pode levar o visitante a acreditar que está enxergando tudo em dobro, pois quase todas as residências têm pelo menos um par de gêmeos. Ao chegar na cidade, é possível ver uma placa com os dizeres "Bem-vindo a Igbo-Ora — a casa dos gêmeos da nação".

A grande atração turística da cidade, além das receitas de fertilidade, é uma escultura em pedra de uma mulher, mãe de gêmeos, com um bebê amarrado às costas e outro no peito. Os bebês parecem felizes e saúdam os turistas.

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