Artes/cultura
17/05/2022 às 08:00•2 min de leitura
Um estudo publicado pelo Departamento de Correções de Iowa (Estados Unidos) revelou um tratamento promissor para auxiliar no combate a abusos domésticos. Tendo como base uma análise comparativa entre casos de homens condenados por violência doméstica, a pesquisa anunciou a importância da intervenção local na redução de comportamentos agressivos, tendo como apoio fundamentos feministas de reeducação aplicados no estado desde a década de 1980.
Segundo uma pesquisa realizada em 2015 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), 1 em cada 3 mulheres sofreu violência por parceiro íntimo no país, incluindo violência física e sexual, perseguição e agressão psicológica.
Porém, especialistas comentaram que a maior parte dos casos é cronicamente subnotificado, resultando em números estimados que não representam toda a extensão das ocorrências dos vários tipos de abuso.
Em Iowa, o programa Modelo Duluth, aplicado na década de 1980 e baseado em preceitos feministas (sociedade sexista como causa da violência doméstica), substitui o cárcere convencional no tratamento a agressores, com os condenados devendo concluir o projeto de intervenção para desaprender suas crenças.
Com o tempo, a estratégia se provou pouco eficaz e teve efeito nulo se comparado ao de nenhum tratamento, exigindo que uma nova alternativa fosse iniciada sem perder a base de ressocialização.
Nesse contexto, o programa Achieving Change Through Value-Based Behavior (ACTV — "Alcançar a mudança através do comportamento baseado em valor", em tradução livre) foi lançado em 2010 por Amie Zarling, psicóloga clínica e professora associada de desenvolvimento humano e estudos familiares na Iowa State University.
O estudo contou com a participação de 15 mil homens acusados de abuso doméstico. A medida visou renovar o Modelo Duluth e trazer uma abordagem cognitivo-comportamental, tendo como fundamento a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
“Os programas baseados em ACT sustentam a perspectiva de que há muitos contribuintes para a violência entre parceiros íntimos, incluindo a falta de habilidades para gerenciar emoções e se comunicar de maneira saudável e respeitosa, bem como crenças e atitudes preocupantes ou prejudiciais em relação às mulheres e a si mesmo. Uma história de trauma, discriminação racial, dificuldades de apego, uso de substâncias e até saúde mental também podem ser fatores”, disse Zarling.
Zarling enfatiza que a ACT trabalha com os traumas para ajudar as pessoas a identificar valores, relacionamentos e partes significativas de suas vidas, a fim de desenvolver habilidades para aumentar sua “flexibilidade psicológica”.
A técnica poderia, então, ajudar participantes a "perceber esse pensamento ou sentimento" e identificar o que está gerando comportamentos agressivos, estimulando a capacidade de realizar escolhas mais adequadas e conscientes.
O estudo selecionou aleatoriamente 338 homens que foram mandados pelo tribunal para completar 24 sessões de um programa de violência doméstica para ACTV ou Modelo Duluth. Um ano após a conclusão do programa de intervenção, a cientista descobriu que os participantes do ACTV tinham cerca de metade da taxa de acusações em comparação com os homens que foram designados para o Modelo Duluth, e menos de 13% do total foi acusado novamente de agressão doméstica.
Os dados da pesquisa mostraram que a agressão física, os comportamentos controladores e de perseguição diminuíram entre os homens que estavam no ACTV. Espera-se que o projeto possa reduzir a violência familiar e evolua nas próximas semanas, por meio de acompanhamentos e testes controlados randomizados em ambientes prisionais.