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09/08/2022 às 13:00•2 min de leitura
O momento em que nossos ancestrais evoluíram para ter sangue quente pode ter acontecido muito mais tarde — e muito mais rapidamente — do que os pesquisadores acreditavam. A descoberta foi feita estudando os minúsculos tubos do ouvido interno, e coloca a evolução do sangue quente dos mamíferos há cerca de 233 milhões de anos — 19 milhões de anos depois do que se imaginava antes.
Embritópode, mamífero extinto semelhante aos rinocerontes atuais.
No interior do ouvido dos vertebrados, existem canais semicirculares que são preenchidos com um fluido viscoso, chamado endolinfa. Esse líquido, quando entra em contato com pelos minúsculos que revestem os canais, provocam cócegas e transmitem mensagens ao cérebro, dando-lhe instruções de como manter o corpo equilibrado.
Assim como acontece com a maioria dos fluidos, a endorfina reage à temperatura ficando mais ou menos densa. Em animais ectotérmicos (sangue frio) esse fluido do ouvido é mais frio — se comporta como melaço — e precisa de espaços mais amplos para fluir. Mas para animais endotérmicos (sangue quente) o fluido é mais aquoso e pequenos espaços são suficientes.
Foi analisando essa propriedade que permitiu que os pesquisadores analisassem a temperatura do sangue, a partir dos minúsculos canais semicirculares. O estudo resultou em um artigo publicado em 20 de julho na revista Nature.
Esqueleto de um cinodonte.
O estudo analisou três amostras do canal auditivo interno de 341 animais – 243 espécies vivas e 64 espécies extintas. Os pesquisadores descobriram que os 54 mamíferos extintos incluídos no estudo desenvolveram as estruturas do canal auditivo há 233 milhões de anos.
A hipótese anterior dizia que os mamíferos herdaram o sangue quente dos cinodontes — um grupo de lagartos semelhantes a ratos que deram origem a todos os mamíferos atuais. Isso colocava o surgimento da endotermia há cerca de 252 milhões de anos.
“Ao contrário do pensamento científico atual, nosso artigo demonstra que a endotermia parece ter surgido muito rapidamente em termos geológicos, em menos de um milhão de anos”, explicou Ricardo Araújo, geólogo da Universidade de Lisboa em Portugal e co-autor do estudo. “Não foi um processo gradual e lento ao longo de dezenas de milhões de anos, como se pensava anteriormente, mas talvez tenha sido alcançado rapidamente”.
O estudo ainda precisa passar por novas análises, com diferentes metodologias e variáveis. Apesar disso, a equipe tem se mostrado bastante entusiasmada com a descoberta, que pode ajudar a responder a uma das perguntas mais antigas sobre a evolução dos mamíferos.
“A origem da endotermia dos mamíferos é um dos grandes mistérios não resolvidos da paleontologia”, disse Kenneth Angielczyk, curador de paleomalogia do Field Museum e autor sênior do artigo. “Muitas abordagens diferentes foram usadas para tentar prever quando ela surgiu, mas achamos que nosso método mostra uma hipótese real porque foi validado usando um número muito grande de espécies modernas e sugere que a endotermia evoluiu em um momento em que muitas outras características corporais dos mamíferos também estavam aparecendo”.