A fascinante jornada final das enguias

28/09/2022 às 04:002 min de leitura

Todos os anos, enguias atravessam o oceano para chegar no mar de Sargaços, onde se reproduzem. Pode parecer mais uma migração como tantas outras da vida marinha, mas ela está envolta em muitos mistérios que pesquisadores do mundo inteiro ainda esperam desvendar.

Isso por essa migração ser a última jornada que esses peixes realizam. As enguias morrem após a reprodução — o que significa que elas só se reproduzem uma única vez. O comportamento reprodutivo desses animais é tão misterioso, que por muito tempo acreditava-se que eles não tinham órgãos sexuais. Até mesmo Freud chegou a estudar enguias para tentar encontrar suas genitálias — algo que ele não conseguiu fazer.

As quatro fases das enguias

Larva de enguia.Larva de enguia.

Por muito tempo, as pessoas não sabiam que as enguias praticam reprodução sexuada. Aristóteles acreditava que elas eram geradas espontaneamente dentro das “entranhas da terra” e nem possuíam órgãos genitais.

Essa teoria sobreviveu por séculos, com naturalistas acreditando que as enguias se esfregavam nas rochas e suas peles davam origem a novos animais. Isso aconteceu porque elas só desenvolvem seus órgãos sexuais no estágio final da vida. Enguias podem viver mais de 60 anos, mas sua transformação pode acontecer a qualquer momento.

A maioria desses peixes possui quatro estágios de vida. Elas nascem no mar de Sargaços — o único mar do mundo que não possui costa (delimitado a oeste pela corrente do Golfo; ao norte pela Corrente do Atlântico Norte; ao leste pela Corrente das Canárias; e ao sul pela Corrente Equatorial do Atlântico Norte) — como uma pequena larva, que flutua até a região onde a espécie irá se desenvolver. 

Quando chegam à terra, desenvolvem-se em enguia de vidro — com a mesma forma de uma enguia, mas totalmente transparentes. Depois disso, as enguias seguem para rios, mares e córregos, e passam por outra metamorfose. Nessa terceira fase elas são chamadas de enguia amarela. 

E é assim que elas vivem até retornar ao oceano em seu estágio final. Como elas só desenvolvem seus órgãos sexuais nessa última etapa, encontrar uma enguia macho ou fêmea é difícil. Em 1876, Sigmund Freud estudava ciências naturais e decidiu investigar o mistério das genitálias desses animais. Em Trieste, na Itália, Freud pegava enguias recém pescadas e as dissecava, para tentar encontrar um macho adulto, mas ele nunca conseguiu atingir seu objetivo.

A última jornada das enguias

As enguias viajam para o mar de Sargaços, partindo de diferentes lugares do planeta. Elas saem da Europa, América do Norte — incluindo partes do Caribe — e norte da África. Enquanto algumas chegam com cinco ou seis anos, outras podem ter 20, 30 ou até mais.

Ainda não se sabe exatamente o que faz com que elas iniciem essa migração e entrem no estágio reprodutivo das suas vidas. Da mesma maneira, ainda não é totalmente entendido como cada espécie “sabe” para onde ir. As larvas deixam o mar de Sargaços sendo carregadas pela Corrente do Golfo em direção à Europa, em uma viagem que pode levar de dois a três anos. 

Porém, as larvas da enguia americana deixam a Corrente do Golfo em determinado momento e seguem para o oeste. A explicação mais plausível para isso é que existem algumas diferenças genéticas e a enguia americana cresce mais rápido e assim consegue sair da corrente e seguir para o continente americano.

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