Estilo de vida
10/11/2022 às 10:00•3 min de leitura
Em linhas gerais, quando os meteoroides, corpos rochosos ou metálicos que ficam à deriva no espaço, entram na atmosfera da Terra ou de qualquer outro planeta, como Marte, em alta velocidade e temperatura, gera um rastro luminoso no céu e passa a ser chamado de meteoro. No momento em que ele sobrevive a essa jornada pela atmosfera e atinge o solo, é chamado de meteorito.
Estima-se que todos os anos, o nosso planeta é atingido por cerca de 6.100 meteoros grandes o suficiente para alcançar o solo, ou seja, isso significa que pelo menos 17 deles caem diariamente. A maioria passa despercebido, principalmente por atingir o mar, regiões inóspitas ou longínquas do globo terrestre.
Como destaca o Planetary Science Institute, apenas 10 desses fragmentos são recuperados. Ao longo de nossa História, mais de 50 mil tipos de meteoritos já foram encontrados na Terra, sendo que o meteorito Bendegó foi o maior fragmento já encontrado no Brasil.
(Fonte: Galeria do Meteorito/Reprodução)
Pesando 5.360 toneladas, a massa de ferro e níquel que é o meteorito Bendegó foi descoberta em meados de 1784, no sertão da Bahia. A primeira tentativa de remoção e transporte do fragmento foi um desastre completo, porque, sem imaginar seu peso, fizeram com que ele rolasse ladeira a baixo e terminasse no leito do riacho Bendegó, em Monte Santo, Bahia, onde permaneceu abandonado por 100 anos.
Em 1811, o químico inglês Aristides Franklin Mornay foi contratado pelo governo baiano para fazer estudos dos minerais a fim de encontrar fontes de água na região. Foi então que o meteorito, considerado apenas “aquela pedra diferente”, chamou sua atenção, e ele decidiu retirar alguns pedaços da pedra e enviá-los para que William Hyde Wollaston os analisasse, na Sociedade Geológica Real de Londres. Mornay foi o primeiro a suspeitar que a pedra tinha origem meteorítica, o que foi comprovado por Wollaston.
(Fonte: Meio Bit/Reprodução)
Nove anos mais tarde, foi a vez do naturalista Carl Friedrich Philipp Von Martius e do botânico Johann Baptist Von Spiz fazerem uma visita ao meteorito Bendegó, aumentando o prestígio internacional ao redor do objeto.
Contudo, demorou até 1883 para que o governo colonial de Dom Pedro II tomasse uma iniciativa a respeito de qual seria o destino da pedra, após pesquisadores franceses do Orville Adelbert Derby alertá-lo sobre o abandono e os perigos da pedra ser coberta por terra e desaparecer novamente. O então diretor do Museu Nacional, Ladislau Netto, tomou a frente da força-tarefa para transportar o Bendegó para a Corte a fim de que fossem realizadas análises para o meteorito ser exposto na instituição.
(Fonte: Museu Nacional/Reprodução)
Em 1887, uma comissão repleta de engenheiros foi estabelecida pela Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro para coordenar a missão de transporte do meteorito do interior da Bahia para a Cidade Maravilhosa.
A remoção aconteceu bem no aniversário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1887, com direito a um momento de solenidade cívica às margens do riacho Bendegó. Após ser extraído do leito do rio através de um carretão puxado por juntas de bois que deslizavam sobre trilhos, o fragmento espacial foi transportado até Salvador, e de lá partiu de navio rumo a Recife, depois para o Rio de Janeiro até o Museu Nacional.
O Bendegó foi recebido em um evento suntuoso e célebre que contou com a presença da Princesa Isabel. Foi feito um corte de 60 kg do meteorito para estudo, depois divididos e enviados para 14 museus pela Europa. No Arsenal de Marinha foi confeccionada uma réplica em madeira do meteorito para representar o Brasil na Exposição Universal de Paris, de 1889. Os esforços para isso foi da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro e do Governo Imperial.
(Fonte: Pisegrama/Reprodução)
Já no local onde o meteorito passou mais de 100 anos cravado, foi erguido um obelisco em homenagem, bem como um na Estação Ferroviária de Jacurici – este para saudar os serviços de engenharia realizados pela equipe de transporte.
Mas esse mesmo monumento foi depredado e destruído pelos habitantes da região depois que surgiu a hipótese de que a Grande Seca de 1877 que devastou o sertão, inclusive baiano, foi uma espécie de maldição devido à retirada do fragmento do local.