Estilo de vida
04/12/2022 às 09:00•3 min de leitura
Ahh, Veneza! Como não se apaixonar pela linda e intrigante cidade que vive, literalmente, dentro d'água? A La Serenissima, como é chamada por seus locais, surgiu na Europa do século V, quando o Império Romano caiu e os bárbaros invadiram o território. A população que vivia em Vêneto, na Itália, decidiu se refugiar em ilhas localizadas em uma laguna do Mar Adriático, no nordeste do país. E assim surgiu uma das paisagens urbanas mais encantadoras do mundo.
Ainda naquela época, a posição estratégica de Veneza permitiu com que os navios que navegavam por ali fizessem acontecer o comércio entre o ocidente e o oriente, tornando a cidade muito poderosa e rica.
Mas, lembra que falamos da população que decidiu se refugiar? Pois então! Em um certo momento, essas ilhas começaram a barrar o desenvolvimento em massa da cidade. Além disso, havia também o "pequeno" problema do nível da água, que aumentava um pouco mais a cada dia, submergindo praias e margens de rios. Apesar disso, os locais não fundaram uma nova cidade, mas decidiram se adaptar com a realidade.
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(Fonte: Divulgação)
A população de Veneza teve que se adaptar, usando muita criatividade, com a presença constante do mar. Os prédios, por exemplo, foram construídos em cima de estacas de madeira afundadas sob argila compactada.
Agora, você deve estar pensando: "Pera aí, então quer dizer que essas estruturas estão no mesmo lugar há milhares de anos sendo sustentadas por nada mais, nada menos, que lama?!". Sim, estão! As estacas de madeira não apodrecem pois não estão em contato com a atmosfera e o oxigênio, que auxiliam no processo de decomposição. Além disso, os pilares estão fincados com tábuas e blocos de pedra por cima deles.
Outro ponto importante a ser mencionado é que as estruturas dos prédios eram feitas majoritariamente com Pedra de Ístria, um tipo impermeável de mármore branco. E, acredite se quiser: esses alicerces estão de pé até hoje!
(Fonte: Diana Grytsku)
Na maioria das cidades, a reparação das ruas é um processo simples de rasgar o pavimento antigo, nivelar as superfícies e cobrir uma base de terra, cascalho ou brita, com uma nova camada de concreto ou asfalto. Em Veneza, no entanto, as ruas não são nada convencionais, e antes que possam ser consertadas, alguém precisa se livrar dela: a água.
O primeiro passo da manutenção do canal é erguer uma ou mais ensecadeiras, que nada mais são do que barragens provisórias que possuem a finalidade de fechar uma região do curso d'água, para deixar seca a área onde serão executados os trabalhos. Essa "parede temporária" isola o canal das vias navegáveis mais próximas. Após instaladas as ensecadeiras, a equipe de trabalho usa bombas para drenar a água do canal. Achou difícil? Então, espera que a pior parte vem agora: remover a camada gigantesca de lodo que se acumulou ao longo de vários anos.
No local da limpeza é utilizada uma escavadeira dragline, equipamento muito usado na engenharia civil e nas minerações de superfície. O lodo é desenterrado e transferido para um veículo com rodas e uma tremonha, que é preenchida com a sujeira e, depois, descartada em uma grande embarcação. Esse processo se repete hora após hora, dia após dia, até que o canal esteja pronto para ser inundado e reaberto.
(Fonte: Venice For Visitors)
Alguns fatores tornam o processo de limpeza e drenagem dos canais mais complicado do que pode parecer à primeira vista. O primeiro deles são as estacas antigas de madeira, que enquanto submersas não apodrecem. No entanto, quando expostas ao ar, entram em processo de decomposição. Isso exige que elas sejam muito bem protegidas durante a limpeza do canal. Um pequeno deslize pode ser fatal para inúmeras pessoas.
Outro fator importante são as utilidades públicas da população. O Canal tem rede de água, linhas de energia elétrica, cabos de fibra ótica e outras mil e uma utilidades, como qualquer outra cidade do mundo. As equipes de trabalho devem ser extremamente cuidadosas para proteger esses recursos e evitar danificá-los durante a manutenção.
Portanto, a cidade poderia, sim, ser completamente esvaziada. Mas imagina que trabalhão? Por isso, as manutenções são feitas periodicamente para executar eventuais reparos. Se isso não for feito, os canais se enchem com os sedimentos trazidos pela maré e materiais que se esvaem das construções, além de sujeiras e outros detritos.