Artes/cultura
14/12/2022 às 10:17•2 min de leitura
Atualmente, três grandes entidades estão competindo para colocar o primeiro humano em Marte: a NASA, a Administração Espacial Nacional Chinesa e a SpaceX. E, entre todos os desafios que uma viagem como essa oferece, um ainda está sem resposta: como conseguir levar todo o equipamento necessário para outro planeta, apenas para cumprir uma missão de ida e volta de cerca de 1.100 dias?
Com base nos hábitos alimentares dos astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional, por exemplo, uma tripulação de quatro pessoas precisaria de aproximadamente 11 toneladas de comida para completar a viagem. Somando os demais itens essenciais de suporte à vida, os motores e as ferramentas necessárias para montar acampamento e o peso de uma nave totalmente abastecida com destino a Marte, a missão pode facilmente exceder as 330 toneladas ao deixar a atmosfera da Terra.
Seria praticamente impossível — e certamente inviável — gerar a energia necessária para toda a sua jornada de ida e volta. Porém, como os planos para a viagem continuam, existem pessoas de diferente áreas tentando resolver esse problema. E uma das respostas veio da natureza.
Esquilo-do-ártico. (Fonte: Wikimedia Commons)
Todos os anos, o esquilo-do-ártico consegue reduzir seu metabolismo e diminuir sua temperatura corporal para quase -3 °C, para sobreviver ao rigoroso inverno no Canadá e no Alasca. Este é o exemplo mais extremos de hibernação, mas, ao mesmo tempo, um dos mais bem-sucedidos.
É por isso que alguns cientistas estudam o animal para compreender como sua biologia pode nos ajudar a colocar humanos em um estado de torpor semelhante. Seria como levar uma pessoa a um estado de quase morte, diminuindo os batimentos cardíacos e fazendo com que o seu corpo necessite de menos energia para sobreviver.
No reino animal existem dezenas de espécies que conseguem ficar nesse estado de torpor durante o inverno. Seus corpos caem em um estado inconsciente que reprime drasticamente a necessidade por comida e ar. Quando voltam à vida na primavera — em questão de poucos minutos —, essas criaturas não mostram sinais de sofrer de atrofia muscular, desnutrição ou outras doenças que poderiam ser decorrentes de longos períodos de ociosidade. E foi assim que uma pesquisadora da Universidade do Alasca entrou no jogo.
Kelly Drew em seu laboratório. (Fonte: Mary Webb/Wired)
Em 2005, Kelly Drew, que vinha pesquisando o esquilo-do-ártico por mais de 20 anos, descobriu um estudo da Universidade Fukuyama, no Japão, que ajudou a entender melhor a fisiologia da hibernação. Drew e sua equipe descobriram que os autores do artigo haviam conseguido tirar hamsters hibernantes do torpor administrando uma droga que bloqueava o receptor de adenosina A1 nas células do animal.
Isso era o oposto do que Drew pretendia descobrir, mas serviu para que ela conseguisse avançar em seus estudos. Se o bloqueio do receptor de adenosina A1 fazia com que hamsters em hibernação se agitassem, talvez ativá-lo em seus esquilos induzisse ao torpor.
Em março de 2018, a NASA convidou Drew e outros pesquisadores que também vinham trabalhando com a SpaceWorks para um “workshop de torpor espacial”. A reunião foi uma oportunidade para os biólogos argumentarem que, se tivessem apoio suficiente, poderiam ajudar os humanos a alcançar pelo menos algum nível de verdadeira hibernação nos próximos 10 a 15 anos — um cronograma que se encaixou perfeitamente com os planos da NASA de enviar humanos a Marte no final da década de 2030 ou início da década de 2040.
Até o momento, pouco ou nada se sabe sobre como a hibernação pode afetar as habilidades cognitivas de um astronauta. Porém, com base no ritmo atual de pesquisa, a NASA poderia começar a testar tecnologias de hibernação, como o coquetel de drogas de Drew, em seres humanos já em 2026. Esse pode ser o próximo — e talvez mais importante — passo para que levar a humanidade para outro planeta se torne uma realidade.