Estilo de vida
17/12/2022 às 10:00•3 min de leitura
Embora muitos homofóbicos insistam em dizer que o comportamento homossexual "é contra as leis da natureza", a ciência já observou relações entre animais do mesmo sexo em diversas espécies, em inúmeras ocasiões.
É claro que o comportamento sexual em animais difere da orientação sexual em humanos, que envolve outros fatores e estímulos, mas isso é, sim, indicativo de que a homossexualidade é natural. Por outro lado, considerando que os animais sempre buscam se reproduzir e garantir a sobrevivência da espécie, que vantagem eles teriam no comportamento homossexual?
O biólogo e divulgador científico Dhiordan Lovestain explica que, em primeiro lugar, os animais homossexuais não deixam de se reproduzir por isso. Na realidade, isso é mais uma estratégia de perpetuação da espécie.
Para animais que vivem em grandes haréns, como cavalos e morsas, as fêmeas podem copular entre si para atrair a atenção dos machos alfa do bando. Enquanto isso, as leoas podem entrar em uma união homossexual para proteger seus filhotes de machos estranhos.
Entre os machos, babuínos podem copular entre si para formar alianças e vencer inimigos em comum. Assim, ambos têm acesso a mais fêmeas para se reproduzirem. De forma parecida, os bonobos fazem sexo para estabelecer relações sociais e resolver conflitos —um contexto onde as relações homossexuais são muito comuns.
Em algumas espécies de cabras da montanha, há uma rígida hierarquia social, onde apenas os machos no topo da estrutura têm acesso às fêmeas —e os outros precisam copular entre si se quiserem subir na hierarquia.
Há ainda o caso das espécies que não sabem diferenciar fêmeas de machos. Aí é melhor fazer sexo com todos, para aumentar as chances de reprodução. Isso nos leva ao próximo tópico.
Fonte: Wikimedia Commons
Lovestain explica que, para ter um comportamento exclusivamente heterossexual, os animais precisam diferenciar os machos das fêmeas. E isso exige bastante do seu organismo.
Em primeiro lugar, porque implica em diferenças corporais: forma, cor, tamanho, produção de hormônios... Além disso, é preciso ter um complexo sistema de processamento de informação para entender essas diferenças. A partir disso, a cientista Julia D. Monk e seus colaboradores publicaram um artigo na famosa revista científica Nature Ecology & Evolution, com a teoria do comportamento indiscriminado.
Pensando em uma espécie ancestral, que teria dado origem a todas as outras, a complexidade necessária para um comportamento exclusivamente heterossexual não seria possível. Logo, as espécies ancestrais teriam um comportamento sexual indiscriminado: melhor cruzar com todos os indivíduos, sejam machos ou fêmeas, para aumentar suas chances de reprodução.
Esse artigo trouxe uma nova perspectiva para o estudo dos comportamentos sexuais no reino animal —e ajuda a entender a diversidade existente na natureza. Também é válido lembrar que existem animais hermafroditas e até aqueles que "mudam de sexo" ao longo da vida.
Fonte: Wikimedia Commons
Sendo os humanos animais muito mais complexos, será que a homossexualidade teria alguma função na nossa espécie? Alguns pesquisadores acreditam que sim.
Isso porque, entre os mamíferos, o sexo tem um papel muito além da reprodução: ele ajuda na criação de laços entre indivíduos, na resolução de conflitos, entre outras questões... O biólogo Lovestain explica que os humanos evoluíram para serem mais sociáveis — com características como uma aparência mais juvenil, desenvolvimento cognitivo prolongado, menos respostas a ameaças sociais, menos agressividade e maior capacidade de cooperação.
Conforme as relações se tornavam mais complexas, o sexo também passou a ter função social — e a homossexualidade também tem seu papel. As relações entre indivíduos do mesmo sexo serviriam para criar laços, integrar-se em grupos e diminuir os conflitos.
Além disso, o cérebro humano é único entre os primatas por sua sinalização elevada de dopamina e serotonina (hormônios ligados ao prazer). Isso está diretamente conectado aos níveis de socialização e, segundo pesquisas, seria proporcional à incidência da homossexualidade.
Em vista disso, alguns estudos argumentam até que a bissexualidade seria o comportamento mais lógico, do ponto de vista evolutivo — pois permitiria gerar essa afiliação sócio sexual com indivíduos de ambos os sexos. Contudo, muitos experimentos ainda analisam essa questão de forma binária, quando é mais provável que a sexualidade seja um espectro contínuo.
Além disso, não somos capazes de medir a incidência de comportamentos homossexuais em humanos de forma plena, por conta das visões culturais sobre a homossexualidade. Afinal, são orientações reprimidas em muitas culturas — e que continuam sendo criminalizadas em mais de 70 países. Desse modo, nem sempre as tendências homossexuais podem aflorar.