Artes/cultura
20/12/2022 às 08:00•2 min de leitura
Em um estudo revolucionário, cientistas da Universidade de Adelaide, na Austrália, identificaram, pela primeira vez, um clitóris em um espécime de cobra fêmea. A pesquisa surge como uma destruidora de estigma e comprova que, há anos, se perpetua um entendimento equivocado sobre a genitália de répteis intersexuais.
De acordo com Megan Folwell, líder e autora principal do projeto, o órgão sexual foi encontrado na cauda de uma cobra fêmea e aparece como resultado de esforços contínuos para compreender a anatomia do organismo feminino das serpentes. Isso porque, em contrapartida, os pênis desses animais rastejantes, conhecidos como hemipênis, têm um amplo foco de pesquisas científicas e já possuem suas anatomias detalhadas — invertidos, bifurcados e, em alguns casos, com espinhos.
Através de uma publicação compartilhada na revista Proceedings of the Royal Society B, foi comprovado que as cobras têm dois clitóris individuais, ambos separados por tecidos e escondidos na porção inferior da cauda. Além disso, eles são compostos por nervos, colágeno e glóbulos vermelhos e variam de tamanho, segundo dissecações realizadas em nove espécies, incluindo a píton-tapete (Morelia spilotes variegata), a biúta (Bitis arietans ou Bitis lachesis) e a cobra-cantil (Agkistrodon bilineatus).
(Fonte: Megan Folwell — BBC / Reprodução)
"Era uma combinação de a genitália feminina ser um tabu, cientistas não serem capazes de encontrá-la e de um entendimento errôneo sobre a anatomia genital das cobras intersexuais", diz Folwell. "Sei que [o clitóris] está em muitos animais e não faz sentido que não esteja em todas as cobras. Só tinha que dar uma olhada para ver se essa estrutura estava lá ou se apenas foi perdida (com a evolução)".
Em comunicado, a autora do projeto revelou que se interessou em entender a anatomia das cobras por não concordar com pesquisas que supostamente ignoraram o órgão feminino em detrimento do masculino. Suas dúvidas foram impulsionadas por desconfianças sobre a literatura atual, onde textos afirmaram, sem muito embasamento prático, que esses animais não tinham clitóris ou que a estrutura simplesmente desapareceu com a evolução.
Com isso, os responsáveis pelo estudo acreditam que será possível compreender como ocorrem certos comportamentos, como o estímulo e o prazer das cobras fêmeas. Pelos espécimes machos serem mais agressivos e proativos durante o ato sexual, muito era comentado sobre seu papel fundamental como pilar do acasalamento. Porém, com as novas pesquisas, é possível acreditar que há chances de haver um jogo de sedução e estímulo iniciado pelo indivíduo feminino.
Folwell diz que o projeto também pode oferecer uma nova luz sobre as "preliminares". Como as cobras machos geralmente se enrolam na cauda de suas parceiras e exercem uma pressão no local, faz sentido que essa perspectiva esclareça pontos de conexão entre os sexos opostos dos répteis, destacando um comportamento fundamental para sua sobrevivência.