Ciência
26/12/2022 às 04:00•2 min de leitura
Boa parte do trabalho dos biólogos em todo o mundo passa por estudar os ecossistemas e aprender a lidar com climas e geografias extremas existentes por ai. No entanto, um grupo de pesquisadores que estava visitando as Ilhas Geórgia do Sul, no Oceano Atlântico, não estavam preparados para lidar com os efeitos inebriantes do cocô dos pinguins que lá habitam.
A Geórgia do Sul é um território ultramarino britânico ao norte da Antártica e a leste da América do Sul. Nos últimos anos, essa região se tornou um ótimo lugar para estudar os pinguins-rei e seu impacto no meio ambiente. Para a surpresa de muitos biólogos que exploraram a área, no entanto, as fezes desses animais são capaz de produzir algo muito semelhante ao "gás do riso". Entenda o caso!
(Fonte: Shutterstock)
Uma vez que as geleiras das Ilhas Geórgia do Sul recuaram devido às mudanças climáticas nos últimos anos, foi possível observar um fluxo maior de pinguins na área recém-aberta. De acordo com estudiosos, a ilha suporta uma população de cerca de 300 mil pinguins-rei adultos reprodutores atualmente.
Com mais pinguins presentes no local, isso também implica numa quantidade maior de cocô sendo gerada. Esses dejetos, porém, são responsáveis por gerar alguns dos gases de efeito estufa (GEE) que estão contaminando o ar e causando o derretimento das geleiras — gerando um ciclo interminável.
Para a surpresa dos pesquisadores, o meio ambiente não é a única coisa que sofre com os gados dos excrementos dos pinguins. Recentemente, cientistas da Dinamarca e da China que estiveram na ilha começaram a se sentir mal e com fortes efeitos psicológicos. O motivo? Eles passaram o dia respirando óxido nitroso, que também é popularmente chamado de "gás do riso".
(Fonte: Shutterstock)
Em entrevista para a Agence France-Presse (AFP), o pesquisador do Centro de Permafrost da Universidade de Copenhague, Bo Elberling, falou um pouco sobre sua experiência no local. “Depois de bisbilhotar o guano (fezes de aves e morcegos) por várias horas, a pessoa fica completamente louca. Ela começa a se sentir mal e com dor de cabeça”, relatou.
Foi então que Elberling e seus colegas publicaram um estudo sobre a relação entre o recuo glacial, atividade de pinguins e gases de efeito estufa na revista Science of The Total Environment. Um dos motivos para os pinguins-rei produzirem tanto óxido nitroso acontece pelo fato de sua dieta ser composta principalmente por peixes e camarão, ambos ricos em nitrogênio.
As fezes de pinguim por si só, no entanto, não contêm o mesmo tipo de gás que os dentistas costumam oferecer aos seus pacientes antes de um procedimento delicado. Quando o guano entra no solo, os micróbios da região convertem essas fezes em óxido nitroso.
Esse gás não só dificulta a respiração das pessoas que visitam a área, mas também prejudica o ar daquele habitat. O efeito poluente do óxido nitroso é 300 vezes maior que o do dióxido de carbono. Segundo os cientistas, ainda não existe uma quantidade suficiente do gás nas Ilhas Geórgia do Sul para ter um impacto global. Contudo, à medida que a população de pinguins-rei cresce, também aumenta a quantidade de resíduos deixados para trás por eles.