Artes/cultura
13/01/2023 às 13:00•2 min de leitura
Na última semana, turistas e visitantes da praia do Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, presenciaram um evento inesperado. Um grupo de baleias encalhadas assustou a todos após serem confundidas com tubarões e acionarem um mecanismo de defesa com uma coloração bastante particular. Nas imagens, é possível observar o processo em meio a gritos e fugas de banhistas; mas será que essa reação natural dos mamíferos realmente deveria assustar?
Antes de mais nada, vale a pena reforçar: os animais na praia não eram tubarões e a mancha escura na água não era sangue. Os espécimes fazem parte do gênero Kogia e esse mecanismo de defesa é observado em suas duas espécies: no cachalote-pigmeu (Kogia breviceps) e no cachalote-anão (Kogia sima). Esses parentes menores do cachalote (Physeter macrocephalus) desenvolveram uma reação contra predadores que colabora com seus hábitos de vida lentos e de comum aparecimento em regiões superficiais dos oceanos.
Tubarão em Arraial do Cabo? tumulto na tarde deste sábado (31), na Prainha. pic.twitter.com/9K0CBK88WW
— @INSTA: FavelaCaiuNoFace (@FavelacaiunFc) January 1, 2023
Alvos comuns de caça humana, as kogias possuem uma protuberância única semelhante a um saco do intestino inferior, que pode armazenar até cerca de 12 litros de fluidos em grandes espécimes. Esse líquido tem uma consistência semelhante à de uma calda de chocolate e pode variar sua textura segundo os materiais incorporados a ele, incluindo grandes quantidades de carbono sintetizadas durante o processo de digestão.
Por conta disso, espécies desse gênero de baleias se tornaram conhecidas como Tsunabiem no Japão, que em tradução literal para o português significa "baleia-foguete". Após sentirem alguma ameaça próxima, elas emitem uma grande massa amarronzada em forma de nuvem, com possibilidades de alcançar um raio de até 100 metros quadrados. Esse recurso de defesa está, obviamente, relacionados a indivíduos ainda em alto-mar, mas também é possível observar tal reação em espécimes encalhados, como houve no caso de Arraial do Cabo.
Assista abaixo um exemplo do fenômeno e entenda como a tática é aplicada para fugir de predadores ou desorientá-los:
Esse mecanismo se tornou mais impactante nas últimas décadas, quando biólogos registraram um alto nível de predação contra as kogias. Hoje, esses animais são conhecidos por terem a vida curta — apesar de dados sobre a expectativa não estarem oficialmente registrados. Animais do gênero ficam sexualmente maduros entre 2,5 e 5 anos após seu nascimento e as fêmeas não duram muito tempo após gerarem seus descendentes.
O fluido intestinal também é um meio natural de compensar a baixa agilidade. Além disso, comportamentos semelhantes foram detectados em cachalotes como uma forma de liberar o estresse, devido a aproximação de baleeiros e de potenciais ameaças. Porém, no caso dos indivíduos maiores, a ausência da protuberância das kogias pode ser contornada pela mera liberação direta das fezes. Os animais também realizam movimentos rápidos para espalhar a nuvem e aumentar a possibilidade de sobrevivência.
“Já experimentei muitos fenômenos naturais interessantes debaixo d'água, em todo o mundo, mas este está perto do topo da lista”, conclui o fotógrafo canadense Keri Wilk. “Desde que você não tirasse a máscara, não dava para sentir o cheiro de nada. Gosto é outra questão…”