Artes/cultura
15/02/2023 às 11:00•3 min de leitura
A série coreana Round 6 ("Squid Game"), de Hwang Dong-hyuk, quebrou recordes históricos na plataforma de streaming Netflix em 2021. O público ficou obcecado com a ressignificação de uma competição de pessoas endividadas com a sociedade em busca de um prêmio bilionário, alcançável apenas para quem conseguisse sobreviver a provas assassinas.
O enredo inteligente provocou tanta tensão com essas provas que atravessou as telas, tendo youtubers com milhares de inscritos oferecendo prêmios em dinheiro para que pessoas participassem de jogos – mas sem precisar morrer por isso.
Até mesmo a Netflix embarcou na ideia, visando mais repercussão e lucro após a confirmação da segunda temporada da série, anunciando em 2022 que adaptaria Round 6 em um reality show; colocando competidores uns contra os outros em busca de um prêmio milionário.
Round 6. (Fonte: Netflix/Reprodução)
Às vezes perigosa, foi essa necessidade de querer viver uma experiência cada vez mais imersiva que despontou uma indústria de jogos para videogames e computadores com uma capacidade tecnológica de aderência maior. Tornou-se propriedade para o mercado de jogos aproximar os usuários de seu universo a ponto de vivenciá-lo, indo de joysticks e controles até os famosos óculos de realidade aumentada.
Em 2022, Palmer Luckey, fundador da empresa de realidade virtual Oculus, revelou que está a meio caminho de terminar a confecção de óculos de realidade aumentada (VR) capaz de matar o jogador se ele perder no ambiente virtual.
Palmer Luckey. (Fonte: Robert Galbraith/Reuters/Reprodução)
Luckey, considerado "pai" da realidade virtual moderna, vendeu sua empresa Oculus para o Facebook em 2014 por US$ 2 bilhões – e teve a tecnologia introduzida por Mark Zuckerberg como a base da Meta –, e criou um óculos de VR que matará de verdade o usuário se ele perder no ambiente virtual.
Os óculos foram inspirados na mesma proposta de um anime japonês chamado Sword Art Online (SAO), em que a morte dos jogadores acontece por meio dos óculos NerveGear. O desenvolvido por Luckey terá três módulos de carga explosiva instalados no topo da tela, em um design parecido com o Meta Quest Pro. As cargas serão direcionadas ao prosencéfalo do usuário, destruindo sua cabeça imediatamente.
(Fonte: Chesnot/Getty Images)
Como escreveu em uma postagem em seu blog pessoal, a ideia de Luckey é fazer as pessoas repensarem de maneira séria e fundamental sobre como elas interagem com o mundo virtual e os jogadores neles. Isso faz muito parte da ideia de não separar o ambiente virtual da realidade, algo que, inclusive, o fascina.
“Isso eleva o nível a um patamar máximo”, escreveu ele. “Gráficos aprimorados podem fazer um jogo parecer mais real, mas apenas a ameaça de consequências sérias pode fazer um jogo parecer real para você e todas as outras pessoas no próprio jogo”.
Cena da série Black Mirror. (Fonte: Netflix/Reprodução)
Para tranquilizar os pais e a sociedade, Luckey ainda está longe de concluir um protótipo verdadeiro do NerveGear, pelo menos por enquanto. Em SAO, os óculos matam os jogadores com um emissor de microondas, que consegue passar despercebido pelos funcionários, reguladores e parceiros de fabricação contratados. “Sou um cara muito inteligente, mas ainda não consegui pensar em nenhuma maneira de fazer algo assim funcionar, não sem conectar os óculos a um equipamento gigantesco”, disse ele.
Portanto, esse seria o grande empecilho até o momento. As cargas modulares explosivas são o mais próximo que ele chegou. Elas seriam acionadas por um sensor fotográfico que detectaria quando os óculos exibissem uma tela vermelha específica que pisca em uma sequência determinada.
Cena da série Black Mirror. (Fonte: Netflix/Reprodução)
Luckey relatou que as cargas costumavam ser usadas em um projeto diferente. Anduril é o nome da empresa fundada também por ele e especializada em armas e defesa, desenvolvendo munições e tecnologia antidrone para forças especiais dos Estados Unidos. Ele já até possui planos para um mecanismo anti-violação que, como o NerveGear, seria impossível remover ou destruir os óculos uma vez que colocados e o jogo iniciado.
“Ainda assim, há uma variedade enorme de falhas que podem ocorrer e matar o usuário antes da hora. É por isso que não criei coragem para realmente usá-lo sozinho”, escreveu Luckey.