Artes/cultura
29/03/2023 às 10:00•2 min de leitura
Tentando entender a data real da extinção dos mamutes, cientistas estão em um impasse quanto à metodologia a ser seguida. Alguns defendem que as provas devem ser coletadas diretamente do organismo, no caso o material genético encontrado nos ossos fossilizados, por exemplo. Outra corrente defende as técnicas do "DNA ambiental", ou eDNA.
Essa abordagem trabalha com investigações conhecidas como reconstruções paleoecológicas, ou seja, o material genético liberado continuamente por organismos vivos quando interagem com o seu habitat. Assim, fezes, urina, escamas de pele, saliva e outros conteúdos ficam "armazenados" por grandes períodos, podendo ser coletados em amostras de água, solo ou ar.
Em novembro do ano passado, dois teóricos, Joshua Miller, da Universidade de Cincinnati, e Carl Simpson, da Universidade do Colorado, decidiram apresentar uma "explicação alternativa" a um estudo de 2021 que usou fezes deixadas por mamutes em solo antigo para provar que esses mamíferos sobreviveram na América do Norte por muito mais tempo (entre 4,6 mil e 7 mil anos) do que se pensava anteriormente.
Fezes de mamute colombiano.
O líder do estudo de 2021, Yucheng Wang, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, afirmou ao site Mental Floss que “o cocô que limpamos todos os dias carrega informações únicas, inclusive nosso DNA, e da mesma forma animais "dão descarga” em seu DNA no ambiente ao longo de suas vidas”. E argumenta: "fazemos cocô todos os dias, mas deixamos apenas um conjunto de ossos".
Mas Miller não concorda com esse argumento. Falando à mesma publicação, ele propõe que esse eDNA veio na verdade de restos mortais congelados de mamutes muito mais velhos do que os supostos "jovens" de Wang. Isso porque, em ambientes gelados do Ártico, ossos de animais podem permanecer intactos por milhares de anos, antes de se decompor e liberar material genético no solo.
Dessa forma, diz Miller, é impossível afirmar com certeza se o eDNA de 4 mil anos apresentado por Wang e colegas veio do cocô de um mamute vivo ou se trata de uma decomposição lenta de um cadáver de longa data.
Os mamutes foram extintos por humanos?
Se a hipótese da extinção tardia dos dinossauros prevalecer, isso quer dizer que esses mamíferos lanudos de quatro metros de altura e nove toneladas coexistiram com os seres humanos por milhares de anos. Isso prejudica seriamente a teoria de que os mamutes foram caçados por nós até sua extinção.
Como grande parte da fauna atual está enfrentando ameaças semelhantes tanto de homens quanto das mudanças climáticas, “o registro fóssil é um ótimo tutorial para entender o que acontece quando as coisas são extintas, o que é muito importante para entender como gerenciar os ecossistemas atuais", conclui Miller.