Ciência
09/04/2023 às 07:00•2 min de leitura
Quando alguém fala em uma consciência universal, geralmente está se referindo a uma força mística e soberanamente divina atuando a todo o momento, gerindo os aspectos da nossa existência e de tantas outras.
No entanto, para a ciência, significa algo diferente. Isso porque, há séculos, teorias alegam que o Universo tem uma consciência. Até porque, se a natureza não apenas é comunicativa, como também social e cooperativa – com suas mudas de árvores se ligando às mais velhas para receber nutrientes como um mamífero recém-nascido, por exemplo –, então por qual motivo o Universo não seria?
Sim, existe uma larga diferença entre consciência e vida, mas seria possível que nossa definição seja muito limitada e o cosmos não esteja apenas vivo, mas consciente?
(Fonte: patrice6000/Shutterstock)
Em seu artigo Consciência Humana: de onde vem e para que serve, Boris Kotchoubey explica que a consciência é uma propriedade emergente, não uma característica. Uma maçã, por exemplo, pode ser verde ou dura, e essas são suas características, mas ser gostosa é uma propriedade emergente. Ou seja, a consciência é maior que a soma de suas partes. A ciência e a filosofia olham para as menores coisas, como o átomo e o elemento, para descrever a realidade do Universo.
Foram os filósofos gregos hilozoístas, como Tales de Mileto e Heráclito, os primeiros a pensar que o Universo tem uma consciência, ainda que não de forma autoconsciente. Eles adotaram uma crença extremamente animista, segundo a qual tudo está vivo junto, em vez de cada coisa possuir uma vida diferente. Mais para frente, essa ideia se tornou a definição do monismo, que acredita que o Universo compreende uma união indivisível de matéria e espírito, vida e Deus.
(Fonte: ESO/VISTA/J. Emerson/Wikimedia Commons)
Os hilozoístas foram os primeiros cientistas naturalistas que tentaram entender o mundo físico e natural, desvendando a geologia, biologia, química e física. Eles chegaram às suas conclusões por meio de uma combinação de observação, racionalidade e dedução.
Na modernidade, a ideia de que o universo detém uma consciência faz parte da filosofia do pampsiquismo. Acreditando que a consciência está na subjetividade da realidade, portanto, não podemos conhecer a experiência interna de qualquer outra coisa, nem mesmo de um elétron.
E não, a corrente filosófica não acha que elétrons individuais circulando o núcleo de um átomo estão pensando: “Nossa, isso é uma chatice”. Esse tipo de processamento pertence à mente humana.
(Fonte: @CC/Artstation/Reprodução)
Engana-se quem enxerga o Universo como um espaço vazio só porque os planetas e estrelas estão separados por anos-luz. Até porque o próprio cérebro humano é comparado com a distribuição de estrelas e galáxias no Universo observável, em uma estrutura neurológica conhecida como "teia cósmica". Os nós se agrupam, os fios conectam os nós e há espaço entre eles. O vazio do cérebro é constituído por 77% de água, enquanto 72% do vazio do espaço é feito de energia escura.
Essas semelhanças não significam que o cosmos esteja pensando, mas se tudo não passa de uma rede coletiva que vive e se alimenta do Universo, então sua atividade pode constituir uma forma de consciência – ainda que essa opere de maneira diferente do que tomamos pela definição da palavra.
(Fonte: Getty Images)
“A consciência está no menor átomo”, diz o panteísmo, uma das vertentes do pampsiquismo que flerta com o animismo. O panteísmo, contudo, evoca o lado mais divino do que é uma consciência. Uma vez que chegou à conclusão de que tudo é Deus, e o material e espiritual são indivisíveis (monismo), então tudo tem uma consciência, inclusive o Universo.
Essa ideia já era pregada pelo filósofo holandês Baruch Spinoza no século XVII, que dividiu o panteísmo, portanto, o pampsiquismo, em 15 vertentes, determinando que Deus é a substância única, infinita, necessariamente existente (ou seja, autocausada) do Universo.