Estilo de vida
18/04/2023 às 13:01•2 min de leitura
Tradicionalmente conhecida como pepino-do-mar-negro, a espécie Holothuria leucospilota vive em águas rasas no Indo-Pacífico e se destaca como um invertebrado marinho com grande poder de reação a ameaças. Seu mecanismo de defesa é bastante incomum e chama a atenção por ser um dos mais eficientes do filo Echinodermata, afetando o movimento — e até a vida — de predadores através de uma "pistola de órgãos" acionada pelo seu traseiro.
Apesar de se esconder comumente em regiões cobertas por rochas, o indivíduo da espécie H. leucospilota não se acovarda em situações mais temerosas. Quando relaxado, ele pode atingir um máximo de 40 centímetros de comprimento, chegando a aproximadamente um metro em posição estendida. Seus vinte tentáculos orais, dotados de pontas ramificadas, se combinam como papilas carnudas em um sistema digestório "fantasmagórico", mas também podem estar cercando a própria cavidade anal, segundo a percepção de alguns cientistas.
Essa estrutura foi descrita pelo zoólogo francês Georges Cuvier, o primeiro a traçar detalhes aprofundados do chamado "órgão cuveriano". Basicamente, essa região é ejetada pelos indivíduos da espécie quando se sentem ameaçados por predadores e tem a capacidade de prender fatalmente ou de repelir criaturas consideradas inimigas. O processo, conhecido como evisceração, seria possível graças a seus fundamentos genéticos, que incluem proteínas fibrosas no tecido conjuntivo semelhantes às existentes em na seda da aranha e do bicho-da-seda.
Via microscopia eletrônica, pesquisadores do departamento de ciências biológicas da Universidade Stanford, Estados Unidos, observaram que essas proteínas contêm longas repetições com capacidade elevada de enredar predadores em locais intrincados. Esse mecanismo seria acionado através de uma pressão física, que espalharia o órgão cuveriano em uma via molecular regulada pela acetilcolina para gerar um impacto explosivo.
Além de ativar um mecanismo de defesa poderoso contra potenciais armadilhas vivas, o traseiro do pepino-do-mar se destaca por ser uma estrutura altamente versátil. Enquanto se alimentam pelo fundo do mar, eles chegam a despejar toneladas de cocô anualmente pelos recifes de corais; algo em torno das dimensões de volume da própria Torre Eiffel, na França. Esse orifício também favorece a respiração dos animais, pois seus esfíncteres regularmente abrem e fecham com o objetivo de trazer água oxigenada para o reto.
(Fonte: Wikipedia / Reprodução)
De acordo com Ting Chen, oceanógrafo da Academia Chinesa de Ciências, em Guangzhou, o órgão cuveriano surgiu como um processo evolutivo baseado em "eventos inovadores", onde sua diferenciação foi determinante para que ele se desacoplasse da "árvore respiratória para uma estrutura de defesa letal contra predadores". Isso também seria resultado de um efeito colateral baseado no comportamento protetor a outras espécies, quando os pepinos ainda eram considerados abrigos para peixes-pérolas e outros seres do mar.
Os próximos planos dos pesquisadores indicam mais estudos sobre as propriedades bioadesivas do órgão cuveriano, com a intenção de obter novos insights sobre o ecossistema marinho e a evolução de seres considerados, por muito tempos, plenamente sésseis.