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10/05/2023 às 10:00•2 min de leitura
Imagine ter acesso a um acervo de quase 10 mil cérebros humanos, todos preservados e prontos para estudo. Parece um enredo de filme de ficção científica, mas essa é a realidade de uma coleção de cérebros localizada na cidade de Odense, Dinamarca. Um dos maiores bancos de cérebros do mundo, o centro conta com um acervo utilizado por pesquisadores de todo o mundo em estudos sobre doenças neurológicas.
Cama onde pacientes com doenças como epilepsia ficavam amarrados em hospitais psiquiátricos dinamarqueses. (Fonte: CNN)
No porão da Universidade de Odense, 9.479 cérebros estão armazenados em prateleiras, no que se acredita ser a maior coleção de cérebros do mundo. O acervo começou a ser formado de maneira não oficial em 1945, após a morte de pacientes internados em institutos psiquiátricos em toda a Dinamarca.
Em uma época em que pessoas com doenças mentais não possuíam direitos e tão pouco eram uma preocupação primordial, a remoção dos cérebros era feita sem autorização dos pacientes ou de seus familiares. E foi assim até 1982, quando a Dinamarca começou a debater questões relacionadas à ética destes pacientes.
Porém, durante estas quase quatro décadas, as pessoas eram trancadas em manicômios e eram submetidas a diferentes tipos de pesquisas experimentais. As equipes que trabalhavam nesses locais acreditavam que talvez pudessem descobrir mais informações sobre as doenças mentais — como onde estavam localizadas, ou quais as suas origens.
Muitas vezes sem poder receber visitas de familiares, os pacientes podiam passar mais de metade da vida nesses hospitais psiquiátricos. Após a morte, os cérebros eram coletados durante as autópsias realizadas nos corpos das pessoas.
Martin Wirenfeldt Nielsen, patologista responsável por supervisionar e administrar a coleção de cérebros. (Fonte: CNN)
Em 1982, o então chefe da coleção de cérebros, Knud Aage Lorentzen, se aposentou. Como ninguém assumiu o seu lugar, a coleção permaneceu intocada em um porão. Cinco anos mais tarde, o Concelho Dinamarquês de Ética foi criado, dando início a uma série de debates sobre o que fazer com os quase dez mil cérebros.
O momento mais tenso aconteceu em 1991, quando o Conselho de Ética autoriza o estudo com os cérebros com certas restrições. Nesse mesmo ano, a SIND (Associação Nacional de Saúde Psiquiátrica da Dinamarca) exige que os cérebros sejam enterrados — iniciando um dos primeiros grandes debates científicos éticos na Dinamarca.
“Houve uma discussão de um lado para o outro, e uma posição era que deveríamos destruir a coleção – ou enterrar os cérebros, ou nos livrar deles de qualquer outra maneira ética”, disse Knud Kristensen, diretor do SIND entre 2009 e 2021, e atual membro do Conselho de Ética da Dinamarca. “A outra posição dizia, ok, já fizemos mal uma vez. Então, o mínimo que podemos fazer por esses pacientes e seus familiares é garantir que os cérebros sejam usados em pesquisas”.
Foram necessários anos de discussões, até que ambos os grupos chegassem em um acordo. Em 2006, o SIND mudou de posição e passou a reconhecer a importância que a coleção poderia ter para pessoas que sofrem de doenças cerebrais, exigindo que fosse criado um maior controle sobre a coleção e o seu uso.
Porém, a coleção começava a enfrentar outro problema. Com a falta de financiamento, os cérebros corriam o risco de serem perdidos. A solução veio em 2018, quando é realizada a mudança da coleção para a Universidade de Odense. Atualmente, ela é utilizada para pesquisas sobre diferentes tipos de doenças, respeitando alguns rigorosos critérios éticos.