Ciência
25/06/2023 às 11:00•3 min de leitura
Durante muito tempo, a orca Tilikum foi uma das estrelas dos shows aquáticos do SeaWorld, junto à sua treinadora Dawn Brancheau. Mas o animal também ficou conhecido por matá-la de forma violenta. Até que, depois do lançamento do documentário Blackfish (2013), Tilikum se tornou um símbolo da luta pela libertação das orcas em cativeiro.
Tilikum, um macho de sua espécie, foi capturado em 1983 próximo à costa da Islândia, com cerca de dois anos. Até ser transportado para seu primeiro "emprego", num parque do Canadá, ele foi mantido em um tanque tão pequeno que mal conseguia nadar. Principalmente porque, sendo um animal tão jovem, ele cresceu muito.
Quando chegou ao Sealand of the Pacific, em Vancouver, Tilikum foi colocado em um tanque com apenas oito metros de largura — praticamente o tamanho de um macho adulto. Como se não bastasse, ele teve que dividir esse espaço com duas orcas fêmeas que frequentemente o agrediam. Tilikum desenvolveu úlceras gástricas e precisava constantemente ser removido para tratamentos.
Foi nesse local que ele se envolveu em uma morte humana pela primeira vez, em 1991. Antes do lançamento do documentário Blackfish, acreditava-se que Tilikum só havia se envolvido na morte de uma pessoa — sua treinadora. Mas o filme revelou outras duas fatalidades.
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Orca Tilikum em show no SeaWorld. (Fonte: Wikimedia Commons)
A primeira pessoa a ser morta por essa orca — embora sua culpabilidade seja questionável — foi a estudante canadense Keltie Byrne, que trabalhava no Sealand of the Pacific.
Ela caiu no pequeno tanque que Tilikum dividia com as outras fêmeas. Testemunhas contaram que, durante vários minutos, a jovem foi praticamente usada como um brinquedo pelos animais. Ela tentava se salvar e sair do tanque, mas logo era puxada pelas orcas novamente.
Frente a tamanho desastre, o parque Sealand of the Pacific acabou fechando 18 meses depois — e as três baleias foram enviadas para o SeaWorld. Foi lá que, em 6 de julho de 1999, Tilikum se envolveu em uma segunda morte humana.
O visitante Daniel Dukes enganou a segurança e ficou no parque durante a noite para visitar o tanque de Tilikum. Os funcionários do SeaWorld só encontraram os restos mortais de Dukes no dia seguinte, junto ao animal. O parque argumentou que nenhuma câmera registrou o acontecimento e que não era possível determinar como o visitante acabou morto.
Dawn Brancheau com a orca Katina, no Sea World. (Fonte: Wikimedia Commons)
Depois da morte do visitante, o parque continuou apresentando a baleia Tilikum em shows — e dizem que ele desenvolveu um vínculo especial com sua treinadora, Dawn Brancheau.
Ela trabalhava no SeaWorld desde 1994 e ficou conhecida como uma treinadora competente, chegando a ser uma espécie de garota-propaganda do parque. Mas tudo mudaria em fevereiro de 2010, quando, logo após um show, Tilikum puxou a treinadora para a água.
O resultado foi uma morte horrível: a orca arrancou o braço, o cabelo e parte da pele de Dawn, além de quebrar vários de seus ossos. Os funcionários do SeaWorld só conseguiram resgatar os restos mortais da treinadora após 45 minutos, pois Tilikum não saiu de perto dela. Depois da tragédia, a opinião pública começaria a mudar — mas o parque não parou com seus shows e Tilikum só ficou fora deles por um tempo.
Até que o documentário de 2013 mostrou o outro lado dessa história: as orcas são capturadas, maltratadas e exploradas em situações que levam os animais ao limite do estresse. Tilikum foi uma das únicas orcas que realmente matou alguém após anos de maus tratos — tornando-se um símbolo da luta pelo fim desse tipo de show.
Há quem diga que Tilikum matou essas três pessoas sob efeito do estresse — sem intenção —, mas também há quem defenda que essa foi uma maneira da orca se defender das agressões.
Com a repercussão do documentário, o público do Sea World diminuiu de forma substancial. A orca Tilikum foi retirada dos shows até sua morte, em 2017. Isso renovou as críticas ao parque, que anunciou o fim do seu programa de criação de orcas em cativeiro — do qual Tilikum era um dos principais participantes. Ao todo, ele teve mais de 21 filhos.
Depois do fim da criação das orcas em cativeiro, o público do parque voltou a aumentar. Na década de 2020, algumas orcas que já estavam presas desde os anos 1970 – como Lolita, que vivia no Miami Seaquarium – foram soltas na natureza.